“Parece que estou convivendo com uma panela de pressão, sabe? não para de fazer barulho, não sossega nenhum pouco”, foi com essas palavras que eu decidi começar uma sessão de análise sexta-feira às 20h.

Ela sorriu e logo completou, “essa foi uma ótima definição, vamos partir daí?”. Eu disse vamos, mas na verdade, queria sair correndo. É engraçado como muitas vezes precisamos e queremos tanto resolver e solucionar algo e ao mesmo tempo queremos na mesma medida sair correndo. No dia em que anotei no meu caderninho que sentia essa bendita panela de pressão, eu senti um alívio. Como se tivesse tirado um pouco de ar de dentro de mim e novas partículas fossem repostas. No dia em que disse a ela, queria sair tão rápido dali que não ficariam nem vestígios de quem disse.

Mas, fui eu. Eu disse então > Eu sinto > Eu percebi > Eu sou. E estava naquela sessão para tentar aliviar mais um pouco dessa concentração de ar que acumulava no peito. Sai dessa sessão de análise e, no decorrer da semana, sabia que precisaria continuar me observando. Afinal, não existe milagre ou manual, apenas o observar e nomear daquilo que sentimos.

Então, ao saber de tudo isso… foi uma semana péssima. Juro. Foi a semana em que mais senti no peito essa pressão. Esse chiado ensurdecedor e insuportável dessa panela que cultivei durante muitos anos. Tantos anos, tantos, que ela decidiu fazer morada. No peito.

xxxxxxiiiiiiiishhhh. Assim. E intensificava cada vez que eu olhava para meu calendário. Cada vez que eu pensava no que precisava resolver. E agora? eu sempre vou ter o que resolver da minha vida. Isso não é crescer. Comecei a descrever esse xxxxxxiiiiiiiishhhh. Como ele surgia, porquê começava, por qual motivo continuava. Foram muitas perguntas com respostas abstratas.

Até que chegou domingo. Dia em que eu adoro sair para correr pela manhã. A cidade está calma, o mundo em estado de ressaca ainda descansa e eu me sinto como se fosse a única a desfrutar das ruas e do céu. Nesse dia, um imprevisto. Não pude ir. Fiquei triste, chateada, mas fiquei me sentindo péssima comigo. PÉSSIMA. E ao escrever sobre essa sensação, eu usei as palavras “como se tivesse perdido a entrevista de emprego da minha vida”.

Tornar tudo um trabalho era o meu príncipe encantado.

Eu ligava minha pressão. Eu alimentava minha pressão. Eu aumentava a pressão quando achava que precisava dar mais de mim. Eu tratava todas as áreas da minha vida batendo ponto, assinando uma carteira e fazendo hora extra desnecessária para mostrar mais desempenho. Para estudar, ler, exercitar, comer e até ver uma série. Tudo se tornou algo que precisa corresponder e mostrar resultados.

Senti meu peito murchar. Admitir isso era como abrir uma nova porta na minha vida: uma porta de encontro comigo. Pensar em tudo como trabalho nos distância de nós mesmos. Nos distancia do cuidado, da empatia, do valor real da autoimagem. Pois o trabalho torna tudo uma métrica. E nós somos seres humanos – sem fórmulas, nem sempre com medidas tangíveis.

Então, essa semana eu resolvi desligar a panela de pressão. 

Engraçado como a gente precisa de um certo tempo para digerir. Mês passado li o livro “Caos criativo”, mas foi só essa semana em que pude entender… O caos cria. O caos não é medido. O caos inimigo das métricas.

Essa semana entramos na academia, mudei meus horários, logo pensei “perdi tempo de trabalho pela manhã” e, por isso, deixei as pontas da rotina um pouco mais frouxas. “Deixa eu ver como será essa semana pra depois estruturar melhor” – e fluiu. Um pouco mais de maré alta e emoção… fluiu. Surpreendentemente.

Foi difícil, mas necessário admitir que eu sempre fiz tudo na minha vida se tornar um trabalho. Tipo rédea curta, até mudo a expressão. E, quanto mais o trabalho ocupou espaço, mais venho buscado voltar a essência do que faço e porquê faço. Pois se tudo tem o peso de um trabalho, nada mais é leve por apenas existir. Assim, com as pontas frouxas: brindei com a minha amiga, rolou a siesta pós almoço, parei de caminhar para me emocionar com uma mensagem, curti a presença dos meus pais sendo avós, fiz uma caixa de papelão ser asas, corri muito mais tarde do que o “normal” (que já teria desistido de ir), e corri feliz. 

Manter uma rotina com as pontas mais frouxas, abriu espaço para o caos criar. Não o contrário que eu tanto temia (criar o caos). Não fui sucumbida. Dei conta de não dar conta.

Terminei a semana com muitos check e alguns “não checks”, mas em dia comigo, com o que sinto. Com a consciência de que sair um pouco do eixo, dá um sabor diferente quando voltamos pra ele depois. 

Essa semana tentei cozinhar minha rotina na panela normal, sem pressão. Demorou mais, mas o caldo fica mais encorpado e gostoso – já diria minha avó. 

Na chance de ir vamos sem pressa e com menos pressão. 
Afinal, estamos falando sobre a vida e não sobre feijão… 
Acelerar tanto é encurtar os dias.

Estejamos inteiros para fluir.

É hora de conferir como estão as suas panelas.