Um dia eu disse a ele que queria ver se meu cabelo estava grande o bastante para fazer uma trança. Mesmo sabendo que meu cabelo é repicado demais, não custava tentar. Afinal, as vezes é bom variar um pouco.
Me sentei no sofá, soltei meu embaraçado cabelo e comecei a dividir. Mecha pra cá, mecha pra lá. Até que percebi que ele me olhava com o canto dos olhos mesmo trabalhando na sala improvisada, percebendo de longe que não estava dando muito certo. Desmanchei a trança muito mal feita e comecei a segunda tentativa do tão desejado penteado. Tentei separar desta vez com mais cuidado e nada da bendita trança colaborar e não ficar torta. Até que ele gentilmente -mas com um pouco de preguiça- levantou e disse:
– Quer uma ajudinha ai? perguntando por obrigação, como se eu fosse negar que precisava.
– Olha, eu quero sim.
– Ahhhh, não sei se sei fazer isso baixinha…


Ele se fez, se fez e se fez. Até que sentou- se atrás de mim e pediu para que eu ficasse no chão para facilitar um pouco pra ele. Ele ria e ria muito, não acreditando que estava fazendo aquilo para alguém. E eu como de costume ria também, com alguns fios de cabelo nos lábios que delicadamente ele os tirava e puxava para a trança que já estava para terminar. Corri descalça até o espelho do banheiro e ele da sala disse:
– Olha, até que não ficou ruim, não é? disse se gabando um pouquinho.
– Não mesmo, esta muito bem feitinha.

Estava de costas para o espelho tentando ver meu cabelo, quando escutei aquelas doces palavras:
– É, se tivermos uma filhinha um dia, depois dessa, eu vou com certeza poder fazer tranças no cabelo dela.

Naquele instante eu já nem lembrava do desastre da minha trança. Eu virei em direção a ele, me encostei na parede e sorria, sorria com os olhos lacrimejando. E ele sorria também: sincero e leve. Foi como um abraço de sorrisos. Afinal, naquele momento eu soube que ele não apenas queria, ele sonhava também.
Tentei dormir com o cabelo como estava. Mas, no dia seguinte, a trança desmanchou. Porém eu olhava meu cabelo frisado e só conseguia sorrir por dentro. Lá estava eu, sonhando com o riso estampado nos meus olhos, apenas porque estávamos pensando no futuro e trançando- o com carinho nas mínimas coisas que nunca imaginaríamos fazer por alguém. Mas que fazem a diferença.

Depois daquele dia, nenhuma simples trança mais foi a mesma.
Era um futuro, trançado de sonho e amor.