Ando obcecada por cuidar da minha vida. Viver minha vida. Estar na minha vida. 

Talvez ler isso te faça imaginar uma jovem mística, bebendo um matcha e solucionando todos os problemas de forma majestosa na sua cadeira bege. Mas, não é bem assim que as coisas andam de fato. 

Viver bem dá um trabalho lascado. Viver a NOSSA vida dá um trabalho danado e, veja bem, cada um só pode falar da sua, combinado?

A cena que você pode tentar imaginar é a de uma pessoa que está em um momento de profundo cuidado pessoal – não to com a skincare em dia e não me orgulho disso. Precisaria estar. Entretanto, tenho cuidado, de forma muito minuciosa de mim. Um pouco por dia, pra não me restar duvidas de que eu estou por mim.

A conta bateu de forma simples, direta e nítida quando minha segunda filha nasceu. Afinal, só eu estar no mundo não foi o bastante para que eu me rendesse a estar atenta e cuidadosa comigo. Foi quando eu me vi com uma bebê grudada no peito, o outro filho pequeno chorando que estava com fome, eu com sede de outro planeta que só quem já amamentou sabe e, mentalmente, eu tentava calcular como cuidaria bem deles se eu não tivesse tempo para estar forte. Em que tempo eu faria isso? Com um, eu revezava. Com dois, não existia intervalo. Eu precisava criar o tempo. Eu precisava me considerar nesse cálculo *diário*.

Não era questão de tomar um café com calma. Não era questão de lavar o cabelo – as vezes também. Era questão de lembrar de comprar a fruta que eu gosto, fazer minha corrida, fazer um checkup de exames, ter um momento para dedicar à terapia, perceber o que estou sentindo no momento em que o sentir vem.

Veja bem. Sabe quando alguém está em falta com outra pessoa e resolver presentear com algum presente muito bom e inclusive de valor alto financeiro pra compensar a falta? Então. Eu não queria isso comigo. Não queria me anular por 30 dias do mês e no último dia, dia 31, fazer um encontro comigo mesma ou um dia de spa. São coisas muito legais? São, mas que são legais de serem feitas para mimar, não para cuidar.

Cuidado precisa ser diário. 

É impossível cuidar de uma planta dessa forma, sabe? Esquecendo de regar o mês todo para no último dia, despejar 4 litros de água de uma vez na tentativa de compensar a falta de atenção. De presença. De ser toda, pois a água não é só para matar a sede. É o que faz uma planta crescer. 

Cuidado precisa ser de dentro pra fora.

Ando obcecada por cuidar de mim. Um pouco por dia, lembrar de considerar o que sinto, o que penso e como desejo fazer. Ainda que, para isso, eu diga não para alguém. Ainda que para isso eu trabalhe menos. Ainda que para isso eu fique um pouco ausente para uns e presente para outros. Ainda que para isso eu precise admitir que não posso sozinha. Ando obcecada por me lembrar de viver com toda intencionalidade e atenção que posso investir. 

Nos últimos anos me despedi de pessoas importantes para mim e, aconteceram de maneira que, deixou muito palpável como a vida é efêmera. Um sopro. Uma dança que oscila do forte pro frágil em questão de segundos. 

A vida é um presente que nos pede presença.

Ando obcecada (mas sem pressa) por habitar os dias que me foram presenteados a envelhecer e estar aqui. Agora.  

Eu não quero mais me mimar, pois eu quero ser toda. 

Eu quero cuidar de cada parte, dos detalhes que me compõem.

A vida é feita dos detalhes. Então, é também dos meus que vou cuidar.

Um pouco por dia. Um pouco. Todo dia. Obcecada pra viver a vida que eu gosto.