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Puxa qualquer assunto relacionado a filhos. Sobre ter ou não, você nem precisa esta grávida, sério, tanto faz. Mas, basta tocar no assunto com alguém que tenha e é muito provável que em algum momento da conversa, no começo ou no final, você escute: “A vida nunca mais será a mesma”. É o que muitos (me arrisco aqui, todos) dizem. E é verdade. Mas não só para quem vive a maternidade. 

Não faz muito tempo que meu filho Levi fez 2 anos. Eu, óbvio, chorei a semana toda enquanto olhava pra ele. Pude lembrar de tudo. Tudo, tudo, mesmo que vivemos. 

Dizem que a nossa memória ser seletiva e só nos lembrarmos que alguns fatos no decorrer da vida serve até como um mecanismo de preservação, afinal ninguém tem tanta memória assim disponível para lembrar de todos os dias. Nossa mente iria simplesmente implodir se fosse capaz de se lembrar de todos os detalhes e minúcias de cada minuto de vida. Mas, eu sinto, que desde que meu filho nasceu, eu tenho sugado cada segundo como se fosse o último gole do canudinho de um milkshake. Puxo, puxo, puxo até a última gota de vida que ele tem para me fazer viver. 

(dizendo isso, eu até entendo porque todo mundo depois que tem um filho ganha um delay de fábrica. Aquela famosa lerdeza de mãe e pai – é vida demais para guardar, viver e contar.)

A maior contradição desse texto eu vou contar agora: a minha memória é péssima. Um lixo. Eu não lembro de quase nada. De verdade. Sem exageros. Minha memória me sabota o tempo inteiro. Mas, mesmo assim, quando se trata de tudo que vivi ao lado do meu filho, parece que fiz questão de criar um cômodo a mais no meu coração para que nada se perdesse.

Eu sei, inútil. Mas, eu fiz isso. Algumas coisas se perdem… é normal. É necessário. Mas, a única resposta óbvia e a altura que explica essa minha tentativa é que “A vida nunca mais será a mesma”.

Eu lembro que, quando eu estava grávida, a minha mãe me disse essa frase. Eu imaginava que seria só pela parte do amor – e nisso ela estava completamente certa. Logo depois, conforme a vida foi acontecendo e o meu filho nasceu, eu entendi outros lados dessa mesma moeda. Nem melhores, ou piores, talvez mais densos, mais complexos. Foram lados necessários que tinham a função de sustentar toda parte gostosa ainda que naquele momento fosse difícil de enxergar isso.

Mude o tom ao ler essa frase: A vida nunca mais será a mesma. Leia pensando nesse outro lado da moeda.

Te convidei a fazer esse exercício porque a vida nunca mais será a mesma. Independente de você ter um filho ou não. Precisei fazer esse recorte da maternidade para te levar a um extremo que é muito imaginado (e idealizado), mas não é preciso ter um filho para ver que a vida nunca mais será a mesma.

Porque a vida nunca é sempre a mesma.

E a essa altura do campeonato talvez você já tenha percebido, mas continuamos insistindo para que a vida nos apresente sempre o mesmo caminho. Continuamos caindo na contradição ao pedir da vida que nos dê aventura, momentos inusitados, alegria contagiante e grandes conquistas e queremos que tudo isso aconteça enquanto seguimos pelo mesmo caminho decorado. Sempre.

É improvável.

É impossível que a vida nos ofereça algo diferente se continuarmos caminhando sempre pelo menos lugar. É impossível enxergar algo extraordinário no mesmo caminho se continuamos vendo o mundo pela mesma perspectiva e usando a mesma lente.

Por isso, assim como a frase “A vida nunca mais será a mesma” pode ter diversos sentidos e ser lida com diferentes tons, nem melhores ou piores, independente do que você faça ou do que aconteça, a vida nunca mais será a mesma.

Somos cíclicos.

Nós não apenas somos:

Nós estamos acontecendo.

Então, enquanto a vida nunca mais será a mesma, te convido a observar e viver todos os diferentes tons que a vida te apresentar. A vida, além de ser vivida, precisa ser interpretada. Não delegue isso. Interprete. Leia pelas entrelinhas. Mude de página. Amasse o papel. Manche de café, mas faça. Interprete. E dê continuidade a esse fluxo que a vida nos convida diariamente a fazer…

nunca

seja

a mesma.

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