Leu o título desse post, certo? É, eu sei. A gente nunca pensa assim e talvez seja hora de refletirmos sobre isso.

Não foi uma e não foram duas as vezes em que eu pensei: O que tem de errado comigo?. Foram tantas as vezes que eu sequer consigo enumerar. Aliás, é ai que mora a maior ironia de todas: pensar dessa forma, com um olhar julgador, é só uma atitude que deprecia a visão de nós mesmos.

Aposto que não é isso que você quer. Mas é o que fazemos..

Antes de mais nada, deixa eu compartilhar uma coisa. Já faz alguns anos que eu tenho, o que apelidei de um “caderninho das emoções”. Nesse caderno eu anoto tudo que sinto. Situações, acontecimentos ou momentos que me afetaram. Tudo! de bacana ou nem tanto, se foi algo que me afetou de forma relevante, eu anoto lá. Essa foi uma dica que uma psicóloga me deu quando eu era adolescente. Fiz por um determinado momento, depois parei, voltei, parei e nos últimos 2-3 anos tem sido imensamente útil.

É nesse caderninho que eu sinto que me conheço de verdade.

Não é o caderno em que eu escrevo bonito, falo frases de efeito, registro com a letra mais legal ou com caneta colorida. É um caderno onde é preciso ser lido com alma. Um caderno onde o que importa não são as palavras, mas como elas serão recebidas: sem julgamento e com acolhimento. É um caderno que eu não abro para ler em qualquer dia ou horário. Quase sempre abro nos dias em que me sinto com a mente aberta e coração receptivo. Ou quando preciso relembrar de algo que já passei e, ao ler nas palavras descritas, me encontro. Nesse caderno não tem meias palavras. São palavras inteiras de uma pessoa de verdade – ou ao contrário. Enfim, é um caderno de carne e osso.

Nesses anos de caderno das emoções eu percebi uma tendência: as menções “erradas” e desafiadoras eu escrevo e me recordo facilmente. As boas e “certas” sobre mim, se perdem. Eu as deixo partir sem que me afetem tão profundamente assim.

Como posso lembrar com tanta facilidade do “errado” e não me recordar com a mesma velocidade do que há de “certo” comigo?

Dia desses em uma aula da pós em Filosofia, aprendi que recordar vem de cordis, que vem de coração. Ou seja, recordar é trazer de volta ao coração. Não temos controle sobre o que nos afeta. Seria burrice e ilusório tentar ter controle sobre isso. Um desgaste tremendo de energia física e mental. Mas, eu posso trabalhar internamente a maneira como me refiro a mim mesma e do que eu quero recordar de quem sou. Pois saiba que existe muita coisa certa em mim – e em você.

Talvez hoje esteja um dia difícil para você pensar que tem algo bom. Talvez hoje você pense com facilidade. Talvez o seu nível de julgamento consigo mesma seja tanto que você até pense mas não consiga colocar no papel – afinal, o ato de escrever, torna tudo mais real e palpável.

Talvez hoje, independente de como você estiver, seja um bom momento para listar 3 coisas “certas” que existem em você. Veja, eu não disse 3 coisas “certas” que você TEM, mas que moram dentro de você.

Escreva em um papel. Ande com esse papel na carteira, coloque em um post-it no espelho ou na sua mesa do trabalho. Deixe em um local visível. Cole em um lugar que você verá algumas vezes durante o dia. Leia, leia sempre esse papel. Sussure, fale alto, diga com o coração, mas leia. Deixe que essas coisas boas impregnem na sua mente. Repita tanto que você saberá de cor quais são as 3 coisas “certas” que existem em você. Talvez a gente não possa controlar o que nos afeta, mas podemos nos afetar pelas coisas boas que se repetem com frequência e são a nossa verdade.

Não estou dizendo para você ignorar aquilo que existe de “errado”. Mas, estou dizendo que a visão que você tem sobre quem é importa. MUITO. A clareza como você se elogia e a responsabilidade como enxerga o que precisa melhorar importa e, principalmente, a forma como você se julga ou acolhe. Nos julgamos e nos avaliamos demais e de uma forma que não é produtiva. Precisamos cada dia mais nos lembrar de acolher quem somos e de anotarmos e celebrarmos aquilo que temos de “certo” no nosso caderninho.

Então, anote algo de “certo” que você pensa sobre você.

E assim, quando menos esperar, a visão que você estima de você, te lembrará sempre de que a melhor maneira de criar conexão e evolução é através da potência de ser quem somos.

O que há de certo em você? eu espero que agora você saiba me dizer.