Uma das coisas que mais tem me assustado na pandemia, além de óbvio, todas as mortes, o descaso de autoridades, pessoas sem empatia alguma (ponha aqui uma lista gigante), é que estamos sentindo num nível máximo que o tempo é a única coisa que nós temos.

O conceito de tempo é a base para os conceitos da vida: jornada, escolhas, cura, vida, morte, encontros, separações. E, mesmo que muitas pessoas já não estejam mais isoladas (e tantas outras que não tiveram a chance de estar desde o começo), eu parei para perceber como todos nós estamos fragilizados exatamente pela questão do tempo, porque é ele que marca nossa vida, que é a régua daquilo que vivenciamos.

Sabemos que o amor está em dia, que a amizade também, que o mais necessário neste momento é a saúde e o bem-estar, mas o tempo? A gente não vai recuperar esse tempo e acredito que é este luto que estamos vivendo diariamente.

O tempo é a jornada.

E nesses tempos, quanto tempo foi tirado de pessoas que se foram? Como diz a minha psicóloga: se antes não aprendemos e não nos aprofundamos nos conceitos de tempo, morte e vida, hoje isso tá sendo jogado na nossa cara.

Não sei para vocês, mas para mim o tempo está passando muito rápido.

Antes a gente reclamava que não tinha tempo para fazer as coisas, ver as pessoas que a gente ama, que não tinha tempo de se cuidar. Hoje, estamos tendo ele, mas não dentro da jornada que gostaríamos de trilhar (estando em casa ou não, nada mais é igual).

Eu vi a série Dark (frita um pouco a cabeça pra entender, mas rola) e eu fico pensando nessas coisas de espaço-tempo e como isso que nós estamos vivendo parece ser um vácuo ou um buraco sem fundo. A quarentena me tirou a noção de espaço-tempo. É como se o relógio estivesse passando a mil por hora, mas não saio do lugar, olho pra janela lá fora e muitas coisas acontecendo, uma coisa até utópica: como tudo está acontecendo lá fora e aqui dentro, mesmo me mantendo ativa, trabalhando e etc, parece que nada sai do lugar?

Tenho buscado falar com pessoas diferentes todos os dias, fazer coisas diferentes, pensar coisas diferentes para conseguir sair um pouco desse sentimento: ajuda muito! Mas tem dia que é só sentir esse luto mesmo e aprender na marra como lidar, mesmo que em muitos momentos a gente se sinta idiota de estar no meio de um monte de gente que não tá nem aí.

Tem sido dias profundos pros que acreditam…e por acreditarmos, por não nos anestesiarmos estamos sentindo e muito!

Fiquemos em casa no que for possível.

Ainda acredito que vamos ter tempos novinhos em folha para viver e tudo isso vai virar uma história triste e amarga da nossa geração, mas com mudanças necessárias.