Minha vó era uma boleira incrível. Não fez curso, não tinha formação, nem balança pra pesar ingredientes. Nada. Nem caderno.

Demorou para a convencermos de que valeria a pena colocar todas aquelas receitas no papel, pois ela sabia todas de cor. Ô cabeça boa.

Eu e minha mãe sempre separávamos um dia da semana pra ir na casa dela pra aprender alguma coisa nova: bolinho de chuva, cueca virada, rocambole, doce de amendoim, bolo de banana… nunca ficavam como o dela, mas eu aproveitava a companhia. Um dia, aprendendo a fazer o bendito bolo de banana, fui pegar a batedeira e ela me disse: pra que essa pressa?

Enquanto dizia, arregaçava as mangas e ajeitava o avental. Ela mexia a massa nas mãos. Sempre. Não sei se era costume, preferência ou se esse era seu truque. Minha avó tinha um combo que ninguém colocava nos livros de receita: atenção, intenção e calma. Não sei qual vinha primeiro, qual precisava mais, mas ela estava atenta ao que fazia, tinha intenção concentrada em cada processo e não tinha pressa daquele momento acabar – ela ligava o rádio e cantava, cantava e cantava. Não era sobre fazer o bolo perfeito, era sobre fazer o bolo. Sem pressa. Devagar. O resultado, era consequência.

No dia dessa foto eu estava aflita, como se quisesse aprender a fazer o bolo de banana perfeito do dia pra tarde (nem pra noite). Sai para pegar uma conta do correio e olhando pro chão… foi como se ouvisse a minha avó me dizendo: pra que essa pressa? Pra onde, como e com quem importava mais do que a velocidade. Talvez esse seja o toque especial dela.

Minha avó era uma boleira incrível. Suas receitas da vida, eu decorei. E receita boa, a gente compartilha.

Devagar e sempre (com atenção, intenção e calma) cantarolando.

Pra que essa pressa? ❤️