Neste ano que nós precisamos ficar mais em casa, parar drasticamente nossa locomoção e entender uma nova rotina, nos vimos em diversos momentos que trouxeram desconfortos, tristeza, ansiedade e conflitos internos e externos.

Todo esse contexto que temos vivido potencializou tudo – tudo de bom e tudo de ruim. Falo generalizando tomando como cenário as conversas que tenho com as pessoas mais próximas de mim, conhecidos de conhecidos e por ai vai. Eu senti que nós paramos, mas dentro de nós o turbilhão vem sem dó. Isso afeta em tudo.

Passei por diversos momentos até agora. Por bons meses eu fiquei estagnada naquela pequena esperança que tínhamos de “em alguns meses tudo isso vai passar”. Depois, entrei numa fase muito complicada da qual ainda não sei se já passei: as crises.

Crises por todos os lados. Crise com trabalho, crise de autoestima, crise em relacionamento, crises de ansiedade e de depressão. Não é fácil escrever sobre isso, não é fácil a gente reconhecer que estamos em meio a crises. Mas é um bom ponto de partida conseguir enxergar a realidade pra sair da chamada zona de conforto, que de conforto não tem nada.

Sessões de terapia salvando semanalmente como um pequeno respiro pra fora da minha cabeça, um dia de cada vez pensando na melhora e como passar por esse tsunami sem se afogar. Até que entendi: estava na hora de mudar algumas estruturas.

Eu precisava me reconectar mais comigo, não com essa pessoa que no momento só parece ser resumida à crises, mas comigo… Com a minha solitude, com o silêncio na minha cabeça, com os meus sonhos, com a minha arte… Relembrar que não sou apenas uma máquina que precisa funcionar, porque no final das contas “a máquina” pifou…

Enfim, em conversa com o meu parceiro, decidimos reconfigurar nosso apartamento. Escolhemos ter cada um o seu quarto para delimitarmos um pouco os espaços já que trabalhamos, vivemos, nos relacionamos e respiramos juntos aqui dentro. Escolhemos diminuir a sala que hoje já não recebe mais o tanto de gente que nós recebíamos para expandir espaços de trabalho, reconfiguramos fora para arrumar aqui dentro.

E foi assim que eu descobri que é possível mudar muita coisa, coisas estruturais dentro de nós, mesmo escolhendo ficar no mesmo lugar. Recolher o que deixei cair no chão tudo sobre mim, reconectar laços, olhar por outros ângulos, adaptar conforme os caminhos vão nos levando.

Agora na minha cama faz um desenho de luz lindo na manhã. E a varanda, que antes mal era frequentada, ganhou mais vida por fazer parte da sala e assim, ser um local de convivência, de conversa. Visitar e ficar no canto do meu parceiro se tornou uma pequena viagem prazerosa durante o dia. Enfim, estruturas sendo renovadas.

Num próximo texto espero vir falar pra vocês os frutos internos dessa mudança no mesmo lugar, até porque… não dá pra sair de mim, não dá pra sairmos do mundo que vivemos e com tudo o que está acontecendo, mas dá para mudarmos tudo a partir das nossas próprias histórias, da nossa autonomia e pelo profundo acolhimento.