Hoje eu me senti perdida. A motivação não veio me visitar quando acordei, e a única vontade que tinha era a de ficar imóvel.

Estamos no meio do ano de 2020, e que ano esquisito que esse tem sido. Os sorrisos foram substituídos por máscaras que cobrem metade do rosto. Ao invés dos abraços e da cerveja gelada no bar, temos a distância e a ligação por vídeo em uma conexão que teima em cair. Nossas mãos agora apertam apenas o tubo de álcool em gel.

 No vocabulário do nosso dia a dia, a saudade é a palavra mais constante.

A cada vez que atualizamos o browser em busca de um respiro, somos aterrados por mais notícias de como esse silencioso inimigo levou-nos companheiros de batalha. E parece que tudo que podemos fazer é nos escondermos e esperar.

Parece estranho pensar em esperar como a única solução. É extravagante pensar no afastamento social como uma forma de afeto. 

Dizem que de tudo da vida temos que tirar uma lição. Mas, às vezes, é muito difícil entender qual o aprendizado quando a realidade nos é jogada na cara de forma tão ofensiva. Como podemos pensar em criar esperanças abstratas quando a concretude da realidade é tão adversa?

Como entender o que a vida quer nos dizer quando a vontade que temos é a de jogar tudo para o alto e nos permitir alguns instantes da mais pura histeria?

E de repente me vi correndo nervosamente os olhos pelo cômodo, buscando alguma coisa que não sei dizer. 

Abri minhas mãos e no meio delas encontrei, meio perdida, a esperança. Parecia menor, já um pouco gasta pelo tempo, marcada pela decepção, mas ainda determinada a existir. Sua força e disposição me impressionaram. 

Assustada e motivada pela sua aparição, corri com minha pequena esperança pelos cômodos, tentando anunciar sua existência. Gritei pelas janelas, exibi-a em minhas redes sociais. Queria que todos percebessem a sua importância.

Mas era como se ela não estivesse ali: era logo soterrada por postagens das mais variadas naturezas.

Com os olhos cheios de lágrimas, encarei minha pequena esperança, com medo de sua desaprovação pelo meu fracasso em torná-la maior. 

Mas ela continuava impassível, determinada em sua vontade de ser. Nada a havia abalado. Olhava-me, esperando me passar a força necessária para que eu continuasse a tentar. 

Sorri para ela, admirando sua força. Abri o lado esquerdo do meu peito e, com cuidado, alojei-a ao lado do meu coração, buscando fazer com que sua força se transferisse para mim. E, por meio dela, continuarei a resistir.

Não sei explicar ao certo o meu intuito com essa crônica.

Talvez seja o de apresentar a esperança como mais do que um sentimento. Algo tangível como uma flor. Uma pequena e delicada flor, gasta pelo tempo, machucada, mas que ainda assim vive. Ainda que avariada, ela brota.

E quando olho para ela, admiro sua força. Admiro sua voracidade em brotar ainda que tudo à sua volta lhe seja adverso, lhe seja hostil.

Regarei minha esperançazinha todos os dias para que sua força passe para mim. E juntas, seremos.