Quase dois meses de quarentena, mesmo quem está em isolamento e quem ainda precisa sair para as ruas, um fato é: nós estamos com menos distrações.

E com menos distrações, digamos assim, a gente começa a se deparar mais com a gente. Para quem não estava acostumado a olhar pra si pode ser um choque.

A realidade é que conviver com a gente mesmo, sem se ignorar, é muito positivo quando conseguimos lidar e tirar o melhor e entender o pior. Mas, quando a gente se ignora e de repente se depara com diversos sentimentos confusos, pensamentos à mil por hora, respostas inesperadaa ao novo cenário, pode ser muito doloroso.

E se você está nessa segunda opção, primeiro de tudo, eu espero que você se sinta abraçada, por que é a partir desse processo de autoconhecimento que muitas mudanças acontecem, tudo à sua volta começa a parecer estranho, aquilo que te incomodava vai incomodar até ficar insustentável.

A primeira coisa que acontece quando a gente olha pra gente com mais foco é entender que é um caminho sem volta. A gente começa a moldar pilares tão essenciais para nós, que tudo que vai contra aquilo começa a cair muito errado, acho que dá até um gosto ruim na boca e o peito aperta de angústia.

Peço para que você, que está se percebendo nesses últimos tempos, tenha conversas respeitosas e muito gentis com você mesma. Sabe quando a gente tá conhecendo alguém novo, que queremos que a pessoa se sinta em casa, que a conversa flua de um jeito legal? Então, com a gente é a mesma coisa.

Talvez você e você mesma tenham muito o que conversar, e tá vindo tudo ao mesmo tempo, como se fosse aquela sua melhor amiga que estava há tempos longe e precisa colocar tudo em dia. Vocês duas mudaram e é incrível quando a gente vê como a outra pessoa mudou, e como tem história pra contar né?! Então, tem muito disso na nossa conversa com a gente mesma.

Você e você mesma vão achar espaços que vão estar gritando para serem ocupados por certezas e respostas, mas vocês juntas, vão entender que ocupá-los é um processo. E que talvez vão ter que mudar formatos, tamanhos, pessoas e porquês.

E essa conversa vai acontecer sempre, é um feedback até o fim da sua vida. É uma parceria que vai se fortalecendo, que vai procurar sempre o equilíbrio e diante de mudanças recorrentes.

É trabalhoso, precisa de manutenção, precisa de intenção, assim como qualquer relacionamento. Mas vou dar um spoiler que depois dessas reuniões consigo mesma, você vai conseguir entender a sua relação com os outros também, isso pode ser pra uma melhora ou para um término. Vai ser um salve-se quem puder, porque, realmente, ninguém párauma pessoa tem uma boa relação consigo mesma.

Que além da quarentena tenhamos mais conversas com a gente.