Eu sinto muito.
Sinto tanto que não peço desculpas, só me deixo sentir.


Deixo o vento bater rosto e bagunçar os cabelos, encaro o pôr do sol até fazer lacrimejar os olhos e me coloco no alvo do céu para a chuva cair e lavar a pele.


Decoro o movimento que a água quente faz quando passa no pó de café, gosto do sabor do vinho quando toca na língua, abraço minha pele com sweaters macios e falo boa noite para as plantas da casa em voz alta.

Acordo com a água gelada no rosto, olho bem para as mudanças das marcas da minha pele e respiro fundo para trazer comigo essa sensação do tempo esvair diariamente – não o deixo escapar.

Gosto de me lembrar de viver todo dia, instante e a cada segundo. Me belisco. Sim, é carne e osso. E é tão fácil de esquecer. É tão fácil não lembrar que somos mortais.

Me dou uma espécie de abraço discreto e me lembro de viver com o que posso agora. Pois só eu posso sentir eu como sinto. E assim, sentir faz mais sentido. Dou lugar para o frio na barriga, abraço o medo e deixo reservado um espaço para o desconhecido.

Pois no fim, tenho muito mais medo de um dia deixar de sentir. E por sentir tanto, não sinto muito.
Só sinto e muito em cada poro. Até o fim