De tudo que li sobre a gravidez, parto, pós parto, o puerpério foi o que me deixou com medo.

Horas depois de parir já veio o convite pra mergulhar fundo enquanto o corpo queria se reacomodar, minha mente readaptar e meu coração transbordava. O peito pingando, o corpo ainda sangrando, útero comprimindo e o coração apaixonado, mas os braços vazios. Me acolhi. Sabia que precisava me jogar, não teria atalhos.

Era como se fosse um outro gestar, um novo parto. Também sem anestesia. Contrai a alma, esmaga as certezas e reforça as incertezas. Diferente do que pensei, não foi triste. Era como uma onda, como contrações. No dia, quando essa onda veio, o choro não deu aviso, só veio. Não era triste. Era um choro por sentir demais… sentir tudo. Em cada poro inimaginável da pele. Sentir tanto. O que a gente quer e o que a gente passa a vida toda fugindo. O choro lava a alma e leva o (des)necessário… Puerpério é uma onda forte cheia de vazio que traz força.

Um vazio que precisa ser compreendido e não ser preenchido por qualquer coisa rapidamente. Puerpério vem pra não nos deixar aceitar e importar qualquer coisa pra dentro de nós.

Tem que ter arrepio, deixar ficar o que faz sentido.

Por isso mata um pouco, mata o desnecessário o que não nos chacoalha a alma; mata o que precisa despedaçar e não tínhamos coragem.

Para nascer uma nova mulher também é preciso que algo morra. E sei e sinto que partes minhas morreram nessa fase, abrindo espaço pra lutar pelo essencial. Puerpério é o desmoronar pra construir. Uma vida, mais de uma vida, as nossas. E como foi boa a bagunça dessa reforma!

Hoje, do puerpério, não tenho medo, me respeito. A minha história, as minhas dores, meu corpo como veículo, meus amores, minha coragem de me permitir gestar nova.

Em minha nova companhia, em meu novo corpo, novo tempo. Com tudo que amo, com todas as limitações, com tudo que será diferente do sonhado, com o meu desconhecido. Sou tudo.

Respeito o desconhecido. Mergulho de peito aberto.

Obrigada, puerpério.