Minha avó é uma mulher forte. Criou sozinha 5 filhos boa parte da vida depois que meu avô faleceu. Ajudou a criar muitos netos e 7 bisnetos. Nem sempre sorria, quase nunca chorava. Mas, sempre cantava. Cantar era o seu termômetro. Parecia que era assim a vida se reequilibrava em seu mundo.

Até uma parte da vida, vi poucas vezes minha avó doente. Isso que lutou contra câncer e tanta coisa que nem fazia ideia do que se passava com ela. Achava que era só um mal estar do que comeu ou uma gripe que não passava.

Por muitos anos eu achei que minha avó seria para sempre. Apesar da minha mãe repetir incansavelmente na nossa infância que “avós não são pra sempre, aproveita”. Na época eu torcia o bico, até compreender que minha mãe teve consciência do que realmente importa muito cedo e de que não somos donos do tempo. Não sabemos de nada. Somos instantes.

A vida nem sempre obedece a ordem dela mesma e, infelizmente, percebi que o tempo realmente segue, não perdoa e atropela, quando meu tio descansou. Até hoje, pra mim, parece quase mentira. Ninguém é para sempre.

Desde esse dia permaneci com um nó na garganta. A gente sabe que o tempo é HOJE, mas custa realmente viver como verdade. O ser humano gasta tempo estudando e pesquisando sobre quem foi, por onde esteve, suas marcas ou para onde vai e o que tem depois, mas esquece o que mais importa: agora. A vida é agora.

É agora que criamos marcas memoráveis. É agora que você construirá o seu legado. É agora que eu ainda me lembro dos dias de praia em Santos com meu tio, dos picolés de milho e dele raspando o torradinho da fôrma de frango assado no fim do almoço de natal. É agora que eu lembro do cheiro do bolinho de chuva da minha vó, dela remendando o rasgo no joelho das minhas calças e cantando com a rádio enquanto passava café a tarde nosso horário nobre.

Nenhuma hora extra é mais importante que uma ligação. Nenhuma reunião é mais urgente do que acolher um amigo ou pedir perdão. Nada é mais valioso do que perder a hora dividindo uma gargalhada, olhando no olho e contando boas histórias.

É agora que deixaremos de forma tão profunda e singela, uma marca que pode transformar. É agora, só agora, que nos tornaremos para sempre quem somos na vida de alguém. Agora é para sempre. Depois, a gente não sabe.

É agora que o para sempre acontece. Não perca tempo.