Atualmente a frase que mais escuto é que a vida está vazia. Será?

Meu celular estava com 123 mensagens não lidas no WhatsApp. 3 chamadas não atendidas. 5 contas de emails para responder. 97 mensagens por dm e mais outras 4 redes sociais que eu nem quis colocar na conta. Dar conta de tantas vozes atualmente não é fácil. Não basta a vida ter seus desafios e obstáculos, mas porquê criamos nossos próprios bloqueios esperando que as pessoas e os nossos sonhos sejam instantâneos. É difícil digitar isso e, mais difícil ainda, é ir na contra mão desse novo modelo da nossa sociedade: posta tudo, aprecia pouco. É difícil não sermos engolidos por isso…

Parece impossível. Dar atenção para quinhentos grupos no WhatsApp, se inspirar, sair, ver um filme, dormir bem, cuidar da saúde, alimentação, sonhar, planejar, executar os planos e ter as redes sociais em dia – a cada segundo aumenta o peso desse fardo que todos temos que carregar. Longe de ser divertido, longe de ser leve.

Final de semana é sempre um momento em que não respondo quase nada. Desligo totalmente. Busco me inspirar e clarear minha cabeça. Segunda é puxado por si só: é hora de colocar tudo em dia. Surge a incompreensão, dos outros comigo e eu comigo mesma. Apesar da ironia de trabalhar com conteúdo digital, eu nunca esperei me enquadrar nisso. Me dedico muito ao que preciso fazer e reservo tempo para interagir conforme sinto necessário. Isso vai de esvaziar minha cabeça no candy crush por 10 minutos ou áudios de 3 minutos para amigas ou minha mãe. De anos pra cá, eu aprendi que preciso ter meus momentos. Foi então que esse final de semana eu decidi desligar. Vi uns 5 posts de amigas, quase nenhum stories, 0 e-mail, tirei um total de 0 fotos.

Fui com meu pai a feira. Ele me contou que a moça que vende banana perguntou de mim semana passada. Eu brinco que ela trabalha com o melhor produto do mundo. Uma querida! Sempre sorrindo, brincando, olhando nos olhos, separando metade da dúzia madura e metade pro restante da semana. Comprei sabão caseiro, comi maçã e uma pera deliciosa, comprei milho e o moço da barraca me indicou não colocar sal na água, pois endurece a espiga. Agradecemos por ser tão gentil com a dica e ele disse: “a gente tá sempre aprendendo né”. É, quando estamos dispostos sim. Falei dos meus medos e planos com meu pai e ouvi dos sonhos da minha mãe enquanto ela esquentava feijão pro almoço. Abracei minha vó, vi como suas mãos já estão mais velhas enquanto ela almoçava comendo um pedaço de mandioca e dando outro pro cachorro dos meus pais embaixo da mesa. Fui visitar uma amiga, tomamos café na mesma padaria que íamos 10 anos atrás chorar as pitangas dos boy. Fui pra casa, limpei a sujeira dos cachorros, organizei a cozinha, Fábio terminava a 2 jornada de trabalho do dia e eu jogava um brinquedo para Lucy e Ringo correrem no quintal. Comemos fondue com meus pais, fiz mil vídeos em câmera lenta com meu sobrinho e ri até ficar rouca.

Não fiz nada demais, mas tudo ficou em mim. Eu me lembro. Lembro do que vi, do sorriso das pessoas, dos conselhos dos meus pais, do abraço da minha amiga, da voz mais fraca da minha avó, da gargalhada do meu sobrinho, das histórias do meu irmão e cunhada, da minha mãe cantando pro cachorro. Esse simples final de semana o tempo rendeu três vezes mais e eu me preenchi de tudo isso.

Volto a frase… a vida está vazia. Não fomos nós que esquecemos como a simplesmente viver?

Talvez seja exigir demais de nós viver uma vida constantemente online e offline o tempo todo. Um dos dois sempre perde. Talvez esteja mais que na hora de reaprender a absorver o que vivemos. Bastar-se com o momento presente. Sem buscar estar em outro lugar, com outras pessoas, endeusando a vida que não nos pertence. Confiamos nossos sonhos e memórias aos melhores filtros, HDs e esquecemos de colecionar no tesouro que está dentro de nós e ninguém pode roubar ou apagar.

A vida não para, só acontece;
A vida passa, não espera;
A vida não é vazia, mas para ser cheia ser apreciada por quem deseja viver.

A vida é o que está acontecendo enquanto estou digitando este texto, afim de fazer você parar agora e olhar ao seu redor e agradecer.
Sem hashtags, emojis, links, textão e botões. Em você.

Equilibrar, desconectar e se conectar. Repete – quantas vezes for preciso.