E ele não fala que ritmo é. Vai do axé em que me faz rebolar a rotina pra conseguir pensar em qualquer outra coisa que não seja “qual foi o último peito que eu dei?”, passando para valsa apaixonada com o sorrisinho de bom dia ao punk rock em que o choro vem quando ao me trocar e percebo que não lavamos as roupas a 15 dias e não tem calcinha mais pra usar. Aí o punk vira emo e o choro que deságua em frente ao espelho é, por fim, almejar poder dormir 6 horas seguidas.

“Será possível algum dia?” A dança pausa.

E quase como em um musical da Broadway posso ouvir o coral de todas as puérperas (em meio a pandemia) do mundo cantando: “vai passar”. E começo a rir de mim mesma.

Meu filho me convida pra dançar todos os dias, não fala o ritmo, não conta o tempo da música, não me dá uma prévia pra gente não pisar um no pé do outro. Ele só me convida. O resto é comigo.

Rebolando pra enviar um oi pras amigas no WhatsApp depois de 5 dias, fingir que sei cantar a letra da música do cansaço de cuidarmos de tudo isolados, enrolando a coreografia dramática do sono enquanto nutro dando meu peito – e improvisar um passinho feliz da vida por ver as bochechas crescendo.

Meu filho me convida pra dançar todos os dias.

E assim vamos nos apresentando só pra nós mesmos dia após dia. Sigo em muitos momentos sem ter molejo suficiente, só buscando me manter flexível para continuarmos nossa troca, nossa soma. Sem ensaios, no puro improviso.

Meu filho me convida pra dançar todos os dias. Ele não quer profissional, só me quer inteira. Me forço a esquecer todos os passos prontos, os versos óbvios e meu ritmo preferido… me disponho. Aceito.

É nessa dança que a gente se encontra,
é nessa dança que a gente se liberta.

Todos os dias a gente se aceita mesmo sem saber o que vem pela frente. Assim, todos os dias a gente se tem.

Não importa a música, se ele for meu par.