Demorou para cair a ficha de que eu estava gerando uma vida dentro de mim. Estávamos crescendo, dividindo o mesmo espaço e nos nutrindo.

Quando a ficha caiu, eu já estava vivendo para sustentar aquele peso novo. Já sentava, caminhava, dormia e comia diferente e acostumada.

De repente, depois de 6 horas de parto e da dor ressignificada, não tinha mais nada ali. Nada. Uma pele murcha, sangue no chão do banheiro e uma mulher que o coração reaprendia a bater sozinho mais uma vez com o outro coração fora do peito.

Demorou pra cair a ficha.

No quarto, não tínhamos um berço ao lado, não tinham roupinhas cheirando a sabão de coco pra afagar a alma, nem uma mala com nossos pertences. A barriga ainda me dava espasmos, o que me fazia acariciá-la como se nosso filho ainda estivesse ali.

Não fazia sentido.

A primeira fralda que Fabio trocou na verdade foi a minha. O recomendado era descansar, mas minha cabeça me fazia acordar com cada choro dos bebês das alas ao redor, imaginando como seria o choro de Levi.

Chorei pela falta, chorei agradecida pela oportunidade do nosso filho poder receber cuidados e sorri por olhar ao lado e ver um pai com os olhos estalados à noite toda tentando assimilar tudo que tinha vivido.

Não dormimos.

Fechava os olhos e tentava lembrar do rostinho dele. Abria os olhos e via Fabinho aparentemente desejando que a sensação daquele momento não terminasse.

E era o que eu sonhava também, não deixar o gostinho do milagre da vida e da força da nossa união escaparem de nós nem por um segundo. Um de cada lado, estendemos os braços quase sincronizados, entrelaçamos os dedos. Cada um tinha o seu coração nas palmas das mãos, fazia sentido entregar um ao outro.

Amanhã seria um novo dia.

Amanhã poderíamos ver Levi e talvez segurar brevemente suas mãozinhas e decorar seu rostinho. Amanhã… só precisávamos deixar o sol nascer. Com as mãos dadas, os corações entrelaçados, o amanhã tinha sabor de esperança e liberdade.

Ficamos de mãos abraçadas o quanto foi possível, assim podíamos vencer qualquer coisa, até mesmo o amanhã desconhecido. Amanhã poderíamos ver nosso filho.

Caiu a nossa ficha.

E estarmos vivos só por isso nunca fez tanto sentido.