O dia começou ensolarado. Uma longa espreguiçada entre os lençóis, abrir as cortinas e colocar uma camiseta sorteada: era domingo, mas parecia um dia qualquer. Abro a porta, os cachorros me esperam, roupa para lavar, dobrar, trabalho a terminar e preguiça. Decidimos almoçar em um pequeno café que fica a menos de 2km. Coloco um shorts rasgado, uma camiseta melhor e continuo com a havaiana velha-de-guerra, pois já sei, vamos com a turma toda.
O caminho até lá parece não ter fim. Lucy choraminga na maior empolgação da sua vida, puxando o braço do Barba. Eu, seguro o pequeno-grande menino Ringo que com 4 quilos a menos da irmã, quase me arrasta pela rua. Na esquina, já estou suada, derretida com esse vai e vem de coleiras e um leve mau humor toma conta, “desse jeito vou parecer uma louca na rua, Ringo”, desabafo.
Chegamos, amarramos as coleiras, sentamos na mesa do lado de uma lata de lixo. Imagina a cena. A cachorrada vai, vem, criançada brincando e pais nos olhando. O momento de servir é sempre um grande mini infarto. Os pratos se aproximam, a cachorrada continua deitada. Eu, estico as mãos segurando as coleiras, prevendo um estrago. Bandejas à mesa e UFA! ninguém pulou e deu um radoucken querendo brincar. Peguei os talheres e pensei: Puxa! Até que estamos normais.

Corto o primeiro pedaço de torta e escuto um ESTRONDO. Ai, não. Um cachorro passa ao lado correndo. Ringo esquece por um momento que está preso e corre em direção para brincar, apenas esquecendo da grande lata de lixo ao lado e dá de cara com ela. Todos olham, riem e a gente? Ri mais ainda. Ringo nos olha como se nada tivesse acontecido e come uma folha do meu alface. Lucy segue acreditando que aquele é o melhor dia da sua vida e na volta me presenteia com um mini xixi emocionado nos pés. Barba caminha com um em cada lado, como se tivesse tudo nas mãos – e tinha.

Final do dia me dei conta de que eu vivo com o maior presente: ter ma família que era puramente ela mesma. E, afinal, qual a graça de ser tão normal?

Ser plastificada, sem manchas nas roupas, arranhões nas pernas ou pêlos na calça. Estar impecável, preocupando- se apenas em como se apresentar ao mundo, enquanto por dentro, somos iguais: todos deitamos à noite, olhamos para o teto e desejamos viver em paz. E assim nós vivemos. Temos tudo.

Ontem, um domingo qualquer, pude esclarecer para mim que, realmente que ser normal não é o nosso forte – ainda bem.