Eu nunca fiz força para ser uma coisa diferente. Nem imagino como seja isso.

Na verdade, por um longo período eu fiz de tudo para mostrar que pouco importa como estou por fora. Eu não queria que me vissem, mas que me enxergassem além dessa casca que chamamos de aparências. Como é difícil para o ser humano, né? Quase impossível.

Faz mais ou menos 4 anos e meio que tenho este blog. Apesar de receber muitas perguntas sobre como é lidar com a exposição, eu me sinto ok. Não mostramos, postamos ou contamos nada além do que nos deixa confortáveis e do que contaríamos por aí. Nos vídeos, fotos e registros Fabinho está quase sempre de chinelo e sem camisa e eu quase sempre de suéter e descabelada – ou de coque para concentrar todo o descabelamento em um ponto só. Assim seguimos vivendo a vida como temos que viver. Para a maioria das pessoas é fácil aceitar que este é o Fabinho e que ele tem a forma dele de ser no mundo. Já no meu caso, não parece ser tão normal assim.

É engraçado pensar o quanto uma mulher demonstra ser corajosa por aparecer sem maquiagem e o quanto a gente precisa se justificar porque a unha não está impecável, quando o look do dia é o mesmo de ontem ou quando resolvemos sim meter um batom vermelho pela manhã, só porque estamos afim.

Muita gente ainda não entendeu que mulher não é vitrine. Muita dessa gente, isso é triste, é mulher.

Estou eu, na minha casa, fazendo almoço e com a calça cheia de pêlos dos meus cachorros. A minha vida é rotineira e entediante para a maioria das pessoas, eu sei. Para mim já foi também. Trabalho diariamente para enxergar beleza da vida nos mínimos detalhes, sem precisar de muito, fico sozinha a maior parte do dia e sem esperar que algo mirabolante aconteça para que eu seja feliz. Aprendi a deixar a vida ser e, consequentemente, a me deixar ser.

Amo a liberdade de ser quem eu sou com a pessoa que eu amo e com meus amigos. Amo a leveza que o meu companheiro sente de simplesmente ser junto de mim – não ser do jeito que eu quero. Quer dizer, eu amo o que ele é, senão não teria graça. Isso é tudo que desejo para todas as pessoas. Isso é felicidade.

As pessoas postam e escrevem textos imensos de que a internet, o facebook e as redes sociais precisam de mais realidade, mas será que estas pessoas sabem aceitar e lidar com a realidade? Será que algo enfeitado e montado não atrai muito mais? As pessoas querem ver pessoas sendo como elas querem e seguindo o que dizem ser um padrão de felicidade, não sendo livres.

Pessoas reais não usam maquiagem, pessoas reais usam maquiagem quando querem e porque gostam, não porque dizem que elas precisam estar 100% do tempo perfeitas. Pessoas reais tem roupa rasgada, meia furada e roupa repetida. Pessoas reais compram uma roupa nova porque amaram, precisavam e usam uma roupa chiquérrima quando querem – até mesmo para ficar em casa.

Pessoas reais não perdem a oportunidade de viver a vida. Pessoas reais ficam suadas, saem de cabelo molhado, mexem na terra, levam marmita, lixam móveis, esfregam roupa no tanque, juntam dinheiro para um restaurante caro para fazer algo diferente, tem unha lascada e fazem quando o tempo ou a vontade permite.

Pessoas reais estão vivendo a vida delas, que pode muito bem ser diferente de tudo que descrevi acima. Pessoas reais estão buscando o equilíbrio em todas as áreas entre o que amam, precisam e sonham. Formando uma versão melhor a cada dia: e isso não é coisa que só se vê no espelho. Pessoas reais falam, gargalham, sentem vergonha, choram, gritam, silenciam quando necessário, ficam sozinhas com a netflix na sexta-feira e param no primeiro boteco de esquina sem conhecer ninguém se é isso que estão afim.

Pessoas reais possuem uma vida normal, além da que é compartilhada. E elas sabem que as outras pessoas também são assim. Afinal, quão profundo é o ser humano para caber em apenas um feed? Estas pessoas procuram o lado bom das coisas, aceitam o lado ruim e seguem vivendo um dia após o outro.

Pessoas reais aceitam a liberdade de ser e sonhar das outras pessoas.

Isso as selfies não mostram. Precisamos sentir. Precisamos SER mais.

“Somos só poeira estelar”.