As vezes a gente precisa sair de onde está. Mover-se para um outro cantinho, cômodo, tirar os móveis de lugar, trocar de música, experimentar outra roupa, cortar uma franja. Quando eu era pequena, nunca parava quieta. Minha mãe teve dois meninos e, depois de muita calça rasgada e camiseta suja, veio uma menina que nasceu moleca, rolava na terra, jogava futebol e fazia lutinha na sala de estar com os irmãos. Eu vivia em (fé)rias.

O tempo passou e nunca perdi a vontade de desbravar, conhecer coisas novas, culturas diferentes em cada pessoa ao meu redor. Mas, as proporções mudaram. Meu tempo entre a faculdade, cursos e estágio era inexistente. Apesar de me divertir aqui e ali, confesso, eu não tinha (fé)rias.

Anos se passaram e pude encontrar um pequeno meio termo. O trabalho dobrou, mas parei de depositar a minha felicidade inteiramente nele. Eu era a responsável e, sentia que tinha o meu coração nas mãos, no mesmo ritmo em que ele ainda batia acelerado dentro, só que agora, fora do peito. Fiquei bom tempo sem saber o que era significado da palavra férias.

Foram 15 dias de Sinal fraco de internet, com trabalho adiantado e celular fora de rede. Era eu, a grama e um céu como nunca vi igual. Coloquei de volta o meu acelerado coração em seu devido lugar: dentro de mim. Pude sentir cada batida e movimentação. A respiração era completa, leve e o sentimento da liberdade de me sentir rodeada de verde, é difícil descrever. As vezes a gente precisa mudar de lugar, estar em outro espaço, em uma dimensão diferente para enxergar como somos movidos pela fé que há dentro de nós. A fé de ver o mundo com outros olhos, estar em qualquer lugar e se sentir em casa e agradecer independente do céu estar azul ou não.

As vezes a gente precisa recuperar o espírito de (fé)rias, de quando éramos pequenos para enxergar a vida como uma eterna viagem. Onde preparamos nossas malas, nos livramos de tralhas e renovamos nossa essência a cada etapa e descoberta desconhecida.

As vezes a gente precisa de férias, mas de fé… precisamos integralmente: a vida é uma aventura. Ainda é, como há 20 anos atrás.