Passei por dias longos de trovoadas e relâmpagos. Sentei na janela e esperei com uma santa paciência pela chuva passar. Esta era eu: sendo um bom ser humano e tentando prever o que estava acontecendo, jurando que a vida estava a testar minha paciência mais uma vez. Passei dias olhando a chuva cair, pacientemente, envernizando as lágrimas com alguns sonhos e polindo as forças, algumas coisas que precisava fazer. Eu acho. A gente sempre precisa, pra manter o espírito em ordem, em plena maré.
Até que percebi que a tempestade não parava nunca, nunca. Ainda com lágrimas secas no rosto e com algumas paradas no queixo, abri as antigas e arranhadas janelas de madeira e estiquei minhas mãos para fora. Estava um dia fresco e com uma brisa molhada, com cheirinho de esperança. Dava pra sentir. Era belo, só de olhar. Isso, que eu estava com os olhos fechado, mas era. Não sabia mais o que eram as lágrimas e o que eram gotas. Estiquei meus pés e logo os encolhi para dentro de novo. Não sabia se devia, não sabia se era aquilo que a vida queria me ensinar. Paralisei por alguns minutos e pude ver que meus pés já estavam respingados. Que mal teria então?

Eu não tinha que advinhar nada naquele momento. Eu tinha que vestir meu vestido confortável, tomar meu melhor café, por meus pés no chão – literalmente – e encarar. Encarar o sol, a chuva, o tempo que vier.
Confesso que é difícil ainda não tentar advinhar o que está por vir ou a crise que é. Mas, quando a vontade vem, eu sento na janela, respiro toda paciência que tenho, olho o tempo lá fora e mal posso esperar a hora de abrir a porta, pois se tem chuva eu sei que minhas tímidas lágrimas de sonhos ainda tem esperança. Pra qualquer coisa e qualquer lágrima, sempre tem.IMG_4796A gente pega gosto por experiências. Pelo risco, pela paciência, pelo riso inseguro e pelos relâmpagos.
A gente pega gosto pelo o que nos ensina a dançar melhor, sem ensaios, sem platéias, sem guarda chuvas, sem lenços de papel.

Afinal, a alma por muitas vezes também precisa se afogar para juntar folêgo e voltar, e então aguentar a previsão do tempo que a vida quer dar. Seja lá qual for vir, nenhuma mais será como essa. Como um choque e um impulso, ao mesmo tempo. Como uma tempestade interior, limpando, para então brotar a tão esperada primavera no olhar.

… que venham as flores!