Quando eu era pequena eu era meio viciada em organizar meu quarto. Eu o mudava pelo menos todo final de semana. Pegava o armário botava de um lado, a cama do outro e meus brinquedos preferidos dispunha na estante. Eu lembro que minha mãe estabeleceu uma nova regra da família: ARRUMAR A CAMA. Essa, meus amigos, era uma dificuldade tremenda pra mim! Eu poderia limpar e deixar o quarto brilhando, mas minha cama no dia a dia eu não conseguiria lembrar de arrumar.
Até que começou o outono fazia um friozinho leve como faz agora em São Paulo e pensei comigo, “se eu arrumar a minha cama pela manhã, quando eu chegar a noite ela estará quentinha”. Passei o outono e inverno todo lembrando de esticar meus lençóis religiosamente, afofar o edredom e colocar uma mantinha na metade do pé da cama. Quando a noite chegava a cama magicamente, parecia a melhor cama do mundo. Ela era. Eu tinha onde dormir, onde me aquecer – um lugar para agradecer.
Ontem, depois de recolher os lençóis do varal, subi as escadas e lembrei de tudo isso quando arrumava a bendita cama e pude sentir no peito o mesmo carinho daquela fase e ri sozinha. A minha, digo, a nossa cama, parecia sim, mais gostosa que o normal.  Calma! Esqueci do final.
No fim do inverno, eu arrumava o meu quarto e lembro que teríamos que sair para algum lugar e meu pai veio me apressar para sair. Contei que eu precisava arrumar minha cama, expliquei o porquê e ele me disse, “a cama só esquenta quando você está nela, por causa da temperatura do seu corpo na coberta”.
Meu mundo caiu, MAYSA. Mas, mesmo assim, continuei arrumando a cama direitinho.

A verdade é que nem sempre algumas motivações precisam fazer sentido. Elas simplesmente precisam acontecer. Afinal, foi aprendendo a arrumar uma cama que pude enxergar que não importa quão pesado foi o dia, a cama vai estar mais quentinha para você se ela estiver carinhosamente em ordem.
O mesmo é sobre organizar a vida e a nossa alma. Fazer uma faxina pesada no fim ou no começo do ano sempre vai bem, mas manter a nossa casa interior em ordem é tão diário quanto esticar os lençóis da cama todos os dias. Não existe milagre, as coisas não vão se ajeitar sozinhas. Nós podemos não prever as surpresas e as bads da vida, porém podemos zelar por pequenos detalhes do dia e assim, viver com carinho, pois é o que a gente pode fazer pela gente e para com ao nosso redor para viver plenamente bem e quentinhos – isso vale para o coração também.
PS: Mãe, ainda não consigo lembrar de arrumar sempre a cama. Mas, a vida, eu não tenho esquecido não – pode deixar.