Escrever no passado vai parecer que esta história é antiga, mas aconteceu poucos dias. Era uma noite fria em São Paulo…

Nem sempre a gente acorda acreditando nas pessoas.

Nem sempre a gente tem fé que o dia vai ser belo. Pior, às vezes, a gente não consegue aceitar as mínimas coisas boas da vida como ter um chuveiro quente e uma cama macia para agradecer. Queremos mais, o que não temos. Nem sempre a gente tem esperança. Nem sempre a gente consegue ter forças para crer que o amanhã será melhor.

Estava em alguns dias assim. Cansada da falta de compreensão e quase nada de respeito. Cansada de ver o mundo virando de ponta cabeça e chacoalhando. Mundo onde vivemos desconfiando de tudo e todos e é difícil crer na gentileza e tolerância. Um mundo em que custa crer que é habitado por seres, realmente, humanos. Cansada de tentar fazer algo. Cansada.

Ninguém se orgulha, mas, às vezes, a gente acorda assim.

Era nove da noite e Fabinho foi na padaria, eu trabalhava no computador com fones de ouvido. Apenas ouvi o estalo da nossa porta antiga quando ele a abriu e pronunciei as palavras: E QUE RAIO É ISSO?

Estranhei ao vê-lo entrar com uma panela e um pano de prato enrolado na alça.

-A vizinha nos deu sopa! Ele me contou todo feliz e com o olhos tão surpresos quanto os meus deveriam estar.

Revivi. Era uma noite fria, eu já disse. Mas, pude sentir o meu coração aquecido de humanidade, fé e esperança. Sem mais, nem menos, alguém nos fez bem. Uma lágrima quietinha parou nos meus olhos quando provei. Nunca imaginei que louro combinaria tanto em uma sopa. Nunca imaginei que alguém poderia mudar meu dia sem me conhecer.

Era “só” uma sopa. A sopa de alguém que recém chegou no bairro e não nos conhece bem, mas nos deseja bom dia, boa tarde e boa noite todo dia. Hoje sei que não era por educação, Bia.

Bia queria realmente nos ver bem. Não precisou mudar o mundo todo pra isso. Fez o que pode, como pode e ao seu redor. Sem imaginar, ela me fez crer que amanhã será melhor, por ter fé que posso aquecer o coração de alguém da forma que eu puder, assim como ela fez.

O mundo ainda é feito das pequenas coisas – que eu ainda não sei por qual razão as chamamos de pequenas, se são tão grandes.

Se você acordou em um dia em que está difícil acreditar na bondade, te conto hoje sobre a Bia. A cada dia, conheço uma diferente por aí. Você também deve conhecer. Você pode ser uma Bia para o dia de alguém também. Vale a pena dividir o mundo com gente assim.