“Me quero livre, mas do seu lado”

Meu marido me enviou essa imagem acima e o sentimento de “que sintonia” me preencheu.

Desde que eu e ele nos conhecemos, falamos muito sobre a idealização deste amor romântico que nos ensinam, este que vemos nos filmes, músicas, novelas, nos discursos familiares, em tudo. Por que precisamos ser perfeitos um para o outro de forma com que nos completemos?

Por que a gente precisa de outra pessoa para curar nossos traumas, para ser a única fonte de alegria, para que nos mostre o caminho que precisamos trilhar, para que vejamos sentido na vida?

Já pararam pra pensar na responsabilidade absurda que é colocar todas as nossas expectativas em uma outra pessoa que também tem seus sonhos, medos, defeitos, objetivos?

Por que precisamos de alguém para dar o nome de “meu” ou “minha”? Será que podemos pensar em “ele”, “ela”, “nós”?

Dialogamos muito sobre tudo, sobre nossas inseguranças, sobre ciúmes, sobre afeto, sobre fases da vida e chegamos a conclusão que nem eu, nem ele vamos curar algo que só nós mesmos podemos curar. É responsabilidade de cada um de nós cuidar nos nossos sentimentos internos, para então compartilhar e não cobrar.

A gente se perde dentro da paixão avassaladora que é realmente um monte de hormônio dentro da gente que nos deixa anestesiados de alegria, tesão, preenchimento, e as construções de amor que nos são colocadas, num primeiro momento fazem todo sentido. Mas ela passa…

E depois? E a convivência? E as mudanças da vida? Pois é, a gente não controla, e daí podemos seguir dois caminhos: se frustrar e desistir de estar com essa pessoa, por que ela não está mais alinhada com esse sentimento e ações que são esperadas dela; ou a gente dialoga, entende a individualidade da pessoa, não coloca os seus problemas e vontades em cima dela, e busca a sintonia.

O amor romântico nos tira a fluidez da vida, nos limita como seres que precisam corresponder a todas as vontades que muitas vezes podem ser as mesmas que a da outra pessoa, mas em muitas outras podem não ser também.

O casamento vinculado ao amor romântico é algo extremamente novo no mundo ocidental, começou em meados nos anos 40 com filmes. É uma construção social. E como todas as construções sociais: não serve para todo mundo.

Precisamos reconhecer que todas as formas de se relacionar são amor, de diferentes formas, mas não deixam de ser amor.

Se uma pessoa decide passar o resto da vida do lado de uma outra pessoa dentro de um relacionamento monogâmico, é amor.

Se um casal decide viver um relacionamento não-monogâmico, podendo se relacionar com outras pessoas: é amor, entre todas as partes, é amor.

Se uma pessoa decide não querer casar, se relacionar sem rótulos com outras pessoas que também estão neste modelo, é amor.

Escolher não ter filhos em um relacionamento, é amor.

Acredito que precisamos cada vez mais tirar a ideia de que amor tem formas, regras e expectativas; e entender que quando nos relacionamos com alguém, ou alguéns, a única coisa que é básica é: responsabilidade afetiva.

É na responsabilidade afetiva que alinhamos pensamentos, que damos ao outro a escolha de ficar ou de ir, que conseguimos manter diálogos genuínos e a construção diária.

O amor romântico nos tira essa responsabilidade e nos carrega de culpa para suprir algo do outro que as vezes nem ele mesmo conhece.

Desconstruir o amor romântico é trazer pra perto o autoconhecimento, o respeito à individualidade e dar a oportunidade de mudar quando preciso.

Querer ser livre do lado de alguém, para ser exatamente quem você é, dentro do modelo que faz mais sentido para você, respeitando todas as partes envolvidas: é….isso é amor. 🙂