Isso não é um texto motivacional.

Durante toda a minha vida eu me desviei de padrões. Seja isso intencional ou não, é algo recorrente e que já me trouxe muita dor, mas também a originalidade e autenticidade de ser quem eu sou.

Todas as vezes que eu tentei me inserir dentro de um padrão, seja ele no campo de orientação sexual, de corpo, de atitudes, de trabalho ou de relações o mundo sempre me diminuiu, me enfrentou ou me apagou.

Ok, também não é pra ser um texto triste e nem de superação.

Minha questão aqui é ressaltar a forma com que o mundo retribui pra mim alguma opinião sobre onde eu não me encaixo dentro dos padrões. E uma delas é a frase “eu não conseguiria”.

Muitas vezes (todas eu diria) eu nem perguntei para a pessoa o que ela acha sobre fato de eu ser gorda, amar o meu corpo e expor ele como bem entender, e numa tentativa de tentar não ser escrota, a pessoa me fala “eu não conseguiria”.

Todas, isso mesmo, todas as vezes que em algum momento foi pauta a minha orientação relacional, que no caso é não-monogâmica, alguém falou “eu não conseguiria”.

Diversas vezes antes de sair do closet, quando contei para algumas pessoas que também me relacionava com mulheres escutei “eu não conseguiria”.

Quando eu decidi trabalhar escrevendo, sendo modelo e trabalhando com cultura e arte depois de anos trabalhando no corporativo as pessoas vinham assustadas me falando “eu não conseguiria”.

Tiveram casos que eu tive que me impor, que eu tive que tomar atitudes que “não se esperam de uma mulher” como ser mais rígida, debater, sustentar uma argumentação e pessoas opinavam dizendo “eu não conseguiria”.

Há pouco tempo atrás todas as vezes que eu escutava um “eu não conseguiria” me colocava num papel indigesto e eu não sabia o porquê.

Por que minha vivência é tão estranha assim?

Por que tudo me parece um ato de coragem sem tamanho? O que tem de errado dentro de tudo isso?

Pois é, questionei o “eu não conseguiria” e entendi que quando pessoas me falam isso diz muito sobre a minha vulnerabilidade por não preencher espaços do senso comum e nem que se esperem de alguém como eu.

Num primeiro momento tentava individualizar o “eu não conseguiria” e entender que realmente cada um é cada um, mas essa reflexão começou a perder o sentido quando entendi que era uma forma de me afrontar de qualquer maneira. Inclusive, de uma forma nada empática.

Não é por que você “não consegue” fazer/ ser/ querer algo que você precisa anular o que o outro está ali vivendo. Isso fala mais sobre você do que sobre a outra pessoa e cheio de julgamentos acima do que é dito.

Por que não só ouvir e trocar experiências? Por que eu preciso me sentir uma alienígena do seu lado porque aparentemente nada do que eu sou você cogita ser/ ter para sua vida?

Hoje quando alguém me fala “eu não conseguiria” já entendo que ali o meu espaço é escasso ou nulo para troca.

E como bem tenho aprendido: é muito melhor estar em espaços onde eu caiba confortalvemente do que pertencer apenas para dizer que pertence a algo.