Não sei você, mas eu tenho uma mania muito grande de ver um pouquinho do meu trabalho em tudo que faço. Como tradutora, fico sempre procurando a relação de atos e acontecimentos com palavras. E, por sorte, essa procura é extremamente fácil de ser realizada.

Nos estudos tradutórios existe um termo que pode até parecer um pouco contrário ao nosso trabalho: intraduzível. Diz-se que o intraduzível é aquilo de difícil interpretação e que não pode ser traduzido para outra língua.

Sim, quando falamos desse termo, nos referimos aos diversos idiomas ao redor do mundo. Mas e quando a intraduzibilidade se dá naquilo que sentimos?

Você com certeza já vivenciou momentos que, por mais que tentasse, não conseguia colocar em palavras. A sensação de ver um show do seu ídolo. A dor na barriga após passar a tarde rindo com os amigos. A perda de um ente querido. Os segundos em que o tempo congela ao olharmos nos olhos da pessoa amada.

Ainda que seja possível descrever essas sensações, colocá-las em palavras parece, de modo quase antagônico, fazer com que percam parte de sua poesia. Isso porque os melhores (e piores) momentos da nossa vida não podem ser escritos, apenas vividos.

A intraduzibilidade dos sentimentos não é algo novo. Em português, tem-se a palavra saudade, que acredito que todos saibamos o que significa. No italiano, struggimento é uma palavra que demonstra um misto de dor, ansiedade e sofrimento. Brainstorm, em inglês, é a palavra usada para descrever o ato de gerar novas ideias.

Se você fala algum outro idioma além do português, chances há de que também já se deparou com essa intraduzibilidade. Pode ser que não tenha prestado tanta atenção, mas tenho a certeza de que ela está lá.

Há vezes em que, por mais que possamos tentar, não conseguimos colocar em palavras aquilo que povoa nossa mente. Se nos lembramos das palavras, foge o pensamento. Quando, por fim, o capturamos novamente, lá se vai o idioma.

Talvez, na verdade, nossos sentimentos falem em uma língua própria, em um idioma ainda não conhecido pela humanidade. Mas, ainda que não possamos entender essa linguagem, prendemo-nos em sua forma de expressão.

No final das contas, é na intraduzibilidade dos sentimentos que reside sua verdadeira poesia. Quando se trata de perceber e colocar em palavras o que sentimos, a lógica e a razão dão-se as mãos e põe-se a reclamar do lado de fora do nosso cérebro.

Mas o fato de não conseguirmos colocar um sentimento em palavras não significa que esse sentimento não exista.