Tem coisa que aparece na vida que a gente não consegue dizer não. Coisa não, me desculpa, ela é ela. Me lembro a primeira vez que ela sentiu fome e veio me trazendo seu pratinho até a sala, jogou na nossa frente como se quisesse dizer: “Ah, gente, faz o favor ai pros irmão”. Essa foi a primeira mania. Depois ela inventou de começar a bater na nossa cara, essa acho que todo mundo sabe, mas agora ela até que superou. Embora, seja fofo demais. Depois ela aprendeu que o melhor abrigo para ela, era no colo de quem a aceitou como parceira, no colo dele ou ao meu lado pra dormir. E isso, ah… até hoje, ela não sai mais. Diziam para gente: “Nossa, mas vocês estão com ela há apenas 1 mês? ela tem tanto de vocês”. E nós sonhamos tanto com você, sem saber que era você, mas era. Nós, naquele início já éramos três em um, sem sequer perceber ou esperar, não podia ser melhor.
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Ela não conseguia ficar sozinha, ela sofria e eu não a culpo, não era bem uma mania. Não é fácil ter amado alguém e de repente ser solta para a rua como se nada daquilo tivesse acontecido, como se o amor não superasse que você cresceu demais ou que não parou de roer algumas coisas. Não te culpo. Íamos no mercado e um ficava fora, outro dentro fazendo as compras correndo, só para ela se acalmar. Era ela, né. E ela nos ama juntos, ama mesmo. Na verdade, ela nos uniu ainda mais. “Pega comida que eu limpo o carpete. Não, pega a coleira que eu junto o cocô na sala”. Ela nos fez um time, muito melhor. Ainda que nem sempre a gente funcione “Senta, não pula, não pula Lucy são visitas”, a gente tenta e sabe que no fundo, ela é apenas ela: sendo feliz demais e sem ter a noção de que tem 19 quilos.
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Uma vez, ela me viu sentada no chão da sala chorando muito, enquanto ele estava no quarto trancado e ela me disse (e eu tenho certeza que disse) “Calma, baixinha, vai ficar tudo bem, eu sei que vai”. Eu sorri, como se ela pudesse entender que eu tinha entendido o que ela queria dizer com aqueles olhinhos caramelos e lá veio ela me lamber, como se tudo fosse perfeito e o amor já reinasse novamente ali. E ele saiu e sorriu pra mim. É… nós demos a ela uma casa, mas ela, fez melhor e nos deu um lar. Um lar em que ela ama comer as acerolas que caem no quintal e os meus tapetinhos também. E eu espero que ela não se esqueça que já pedi perdão por ter ficado tão brava naquele dia. Acontece, ela sabe.
É Lucy, é difícil não sorrir escrevendo de você.
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Eu a admiro. Como ela consegue entender cada momento, como ela consegue ver o que é para brigar e educar e ainda assim amar. Como ela pode esquecer que um dia alguém a magoou, abandonou e ainda amar sem limites, com todas as forças que ela pode. Talvez ela seja grata pelo o que tem hoje, sem remorsos, sem mágoas e sem se importar com raça ou qualquer outra coisa, ela apenas ama porque aprendeu e quer amar. Talvez ela seja esperta, mais do que muitas vezes eu fui em perder tantos momentos bons da vida, pensando no que já não tinha mais como mudar. Ela, com apenas 1 ano, me ensinou a viver o presente. E amá-lo.
Lembro dela na primeira vez e agora como seu pêlo já não é mais o mesmo, como suas pintinhas tão lindas resolveram aparecer mais e como ela já se entrosou com a casa. Eu vejo tudo hoje e eu sorrio. E ela também sorri, embora seus olhinhos bem lá no fundo carreguem tanto medo da rua, mas ela ainda assim sorri. E eu sei Lucy, nós também carregamos nossos medos. Mas juntos, é bem mais fácil. Bem mais.
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É, é impossível não sorrir escrevendo dela e do seu amor tão grande que resolveu transbordar em forma de coração pelo fucinho, só pra não faltar amor. Não faltar amor. Não faltar coração para quem quiser um dia, se doar e receber amor de um amigo que te ama por você ser você. Só por isso. E mesmo depois, podendo dizer não a ela, nós nunca diríamos.
Mas, por favor Lucy, me deixe pelo menos com um tapetinho só.. 🙂