Eu nunca fiz 3 anos e meio e bláblá com alguém de namoro. É um tempo considerável, é. E é muito engraçado como a pauta das perguntas de cada aniversário de namoro muda. No primeiro ano de namoro: “Ah, o amor é lindo não? sejam felizes!”. Uma graça! você escuta isso até do tio da padaria e acha o máximo. Aí, vem a crise dos 1 ano e meio, quando toda aquela tensão e novidade dão uma desafogada. E aí chegam os 2 anos: “Uau, chegaram até aqui? Vocês brigam muito?” e você sorri e bate o pé no chão que vocês são o casal que mais dribla a rotina e com paixonite aguda do mundo. Com a chegada dos 2 anos e meio, você passa a se perguntar se aquela pessoa realmente vai envelhecer ao seu lado e se você demora para responder, já sabe a resposta e PUFT! Mas, se ao se perguntar isso dentro da sua cabeça, mesmo em um ônibus lotado, amassada feito sardinha, ainda assim você sorri sozinha… Sim, você também já sabe. Nessa fase, você vira a conselheira de todas as amigas, como se entendesse muito de amor e suas idas e vindas, como se isso tivesse regra. Até que chegam os 3 anos. Ah, os 3 anos… você enxerga que já estão com raízes sólidas. A família já pergunta quantos filhos vocês vão ter, cesárea ou parto normal, amigos distantes já falam “E aí, como vai o maridão?” e as amigas dizem: “A paixão ainda é a mesma?”. Você pára e um filme passa na sua cabeça e lembra dos primeiros passos do namoro e como as coisas mudaram. Mas é claro que mudaram, é óbvio e vão continuar mudando.
Nunca mais teremos um primeiro beijo (não vale dizer que “sempre é como a primeira vez”), as primeiras descobertas sobre o outro, as surpresas começam a ficar menos “UOU, isso é um filme da Cameron Diaz com o Ashton Kutcher?”, os presentes passam a ser por utilidades X preço e definitivamente não, nós não compraremos mais a primeira saboneteira juntos, o primeiro kit de copos e nunca mais será a primeira vez em que dançaremos na fila do banco ou que dividiremos a primeira pizza sentados no carpete da sala.

E isso assusta? Nãnaninanão. Dá frio na barriga? ah, se dá…

Aí, você percebe que tem ao seu lado não mais aquele cara que pensa que você não fica fedida e descabelada nunca. Mas, aquele que te diz como você está linda mesmo depois de uma corrida, toda suada ou quando erra o corte de cabelo. Você percebe que não se mede um relacionamento pela quantidade de brigas, mas se vocês se resolvem com carinho e respeito. Você sabe que tem ao seu lado, aquele homem que no meio da rua, caminhando numa boa, sem falar nada, segura no pulso e sabe que sua pressão caiu e você vai desmaiar e não precisa dizer nada. Coisas que só a rotina faz por você. Você sabe que tem aquele homem que sabe o desodorante que você usa e quando você compra algum com outro perfume diz “Ué, esse não é seu cheiro”. Aquele que sabe quando você tenta disfarçar o choro e quando finge ser forte nas pequenas decisões. E acredite, depois de alguns anos juntos, descobrir algo um do outro é ainda mais animador: “Como assim você nunca comeu donuts?”. Pois é, nunca comi e em 3 anos e meio nunca te contei isso. Mas, mais animador ainda é sentir na pele que amar é uma decisão. E que aquele mesmo cara decide ter paciência, parceria e se doar a cada dia por vocês. Ele é o mesmo. Ainda é.

Por fim, você sabe que sempre terá ao seu lado aquele homem que sempre fará a mesma brincadeira na mesa com amigos perguntando se você quer bacon, mesmo você não comendo carne. Você olha pra ele e sorri e ele já sabe disso. Ou melhor, você sabe que terá aquele homem que te arranca sorriso fácil, mesmo os sabendo de cor e olha pra você e diz que quer ser seu eterno namorado. E isso não tem rotina ou o tempo que tire, o prazer de ver a felicidade do outro e de um com e para o outro. É amor, porque é e como é.

E ainda me perguntam se eu sinto falta de como as coisas “eram” ou se elas mudaram? As coisas ainda são, apenas evoluíram e mudaram. Pra melhor? Não. É só assim… simples e ainda surpreendente amor.

Que o amor vire rotina, sim.