Amor,

dia desses passei em frente aquela cafeteria que costumávamos ir. Me dei conta que já se passaram bons anos desde então…

A gente nunca teve um primeiro encontro oficial, só resolvemos tocar a vida juntos. Era aconchegante como o encontro entre amigos de infância. Era familiar. Resolvemos arriscar. Para mim todas aquelas xícaras de café carregavam a mesma emoção de um jantar à luz de velas. A gente se observava o tempo inteiro.Você bem mais do que eu, confesso. Entre um gole de café e outro, nossos olhos espiavam por cima da xícara, como quem tenta conhecer em cada segundo o que o outro acha do mundo: de onde virá a expressão de graça, o riso ou a surpresa. Eu sempre pedia o bolo caseiro do dia e você algum lanche ou pastel tamanho família. A gente sempre se deixou ser.

Esta foi a minha maior paixão em nós antes de sermos nós: simplesmente éramos e fazíamos isso bem juntos.

Você com a sua cabeça racional demais e eu com meu coração que precisa de um toque de poesia pra pulsar. Duvidei que isso seria uma boa mistura. E o tempo me mostrou que a gente queria se aguentar. A gente ria sem parar, ou melhor, rimos. Talvez este tenha sido nosso hobby preferido nestes quase 84 meses juntos. “O que vocês gostam de fazer em casal?, para onde gostam de ir? onde gostam de comer?” Qualquer lugar que seja permitido rir e de preferência alto. E estava feito. “Eu não tô apaixonada, só gosto de estar perto e rir junto com ele”, acredita que uma vez nos defini assim? Pois é. Muita coisa mudou, mas ainda bem, que isso não mudou em nada. Porém, hoje eu não tenho medo de me deixar apaixonar a cada dia pela mesma pessoa.

Era engraçado como o tempo passava devagar naquela época. Eu madrugava para trabalhar, saia para te encontrar, ia para faculdade, fazia curso e o tempo naquela varanda enquanto falávamos bobeira custava a passar. Hoje, ele voa tanto que não consigo mais contar. Me esqueço, me perco. Que bom que você também não é dos bons de lembrar. Na verdade foi ao seu lado que pude sentir dentro do peito, o sentimento de celebração diária, que não precisar ser ao pé da letra. É todo dia que nos olhamos, rimos ou choramos e vivemos juntos. Temos grandes motivos para comemorar o amor que um dia decidimos cativar. É todo dia que agradeço.

Dia desses você me avisou que estava saindo do trabalho, igual faz todo bendito sábado. Senti frio na barriga. Aquele geladinho que é o sinal da alma quando está plena. Quando se confia que algo te trará paz e não vê a hora de chegar. Aquela paz silenciosa, mansa e que custamos a notar. Fiquei sorrindo feito trouxa. Você entrou na casa e antes de me dar um beijo, comeu metade do bolo em cima do fogão com cuidado para não sujar o chão. Sorri abobada e pensei: Esse é o cara da minha vida. Quem sempre me trouxe paz – e acaba com a comida da casa. Prioridades.

A vida nem sempre sorriu pra gente. Mas, a gente sempre fez ao máximo para seguir mesmo assim. Hoje, você já conhece minhas zilhões de expressões, quase não preciso falar. E ainda assim me observa todo dia, mesmo sabendo as respostas que vou dar, o que me faz rir, chorar e o que só uma pizza pode curar. É fogo quando alguém te decora nas coisas mais idiotas do dia a dia. Quando você percebe que é tudo uma coisa só, parte de um todo da vida de alguém. Vamos mudar juntos, a cada dia, as novidades não terão fim. Apenas recomeços. É gostoso de pensar.

“A Isa sente demais”, você diz o tempo inteiro e tem razão. Não me arrependo. Sempre usei de todas as letras para dizer que amo e o quanto amo. Sempre tento dimensionar o que é infinito. Nunca achei verbos suficientes e talvez nunca encontre. E nunca vou me cansar de expressar, sabe, Amor… Como foi bom te encontrar!

Ainda é. Ainda que todo dia no mesmo teto que o meu.

Temos mais umas boas vidas por vir e muitos cafés para tomar.

Foi o que pensei quando passei por aquele lugar.

Obrigada por me fazer sentir tantas coisas boas na vida com tão pouco.
Pessoas como você valem a pena.