Existem dias e existem aqueles dias. Ela acorda cedo pela manhã e ele quer dormir até 2 da tarde. Ela liga a tv, faz barulho na casa e nada dele levantar. Ela quer tomar um belo café da manhã e ele? nada com nada, nem se mexe: “Mas que coisa! me deixa dormir”. Foi a deixa para ela dizer que ele não sabe aproveitar o dia, se arrumar e sair. Na rua, ele quer ir para um lado e ela para outro. Ela diz que tem que cortar o cabelo, talvez fazer uma franja para melhorar os ares e ele diz que isso não vai mudar em nada e ela fica bonita de qualquer jeito. Mas, ela nem percebeu o elogio.
Eles vão até uma loja de instrumentos. Ela quer tirar foto e ele não quer saber: “aproveita o momento”, ele diz até com razão, mas ela consegue fazer os dois mesmo que ele não. No caminho ele diz que prefere o álbum Rubber Soul e ela discorda e diz que é o Abbey Road, embora os dois gostem de todos. Ela diz que eles precisam viajar para se conectarem melhor e ele diz que é bobagem e que eles só precisam ir para uma praça relaxar. Na praça, eles deitam na grama, olhando pro alto e ele diz que ela deveria ver mais filmes de terror e zumbi com ele ao invés de se emocionar até com comercial de banco. E ela, começa a chorar.
Eles caminham de mãos dadas e ele troca de lado, pois não quer que ela caminhe pro lado da rua e ela diz que quer ficar daquele lado porque o anel dela esta machucando o dedo. A noite, ele quer ver o tal do filme sanguinário, ela quer fazer uma noite só deles e ele pergunta se não dá pra fazer os dois. Ela nem responde e vai pra cozinha: ele quer comer picanha, ela quer pizza de queijo. Ele diz que o caminho mais curto até a praça era um, ela diz que o caminho mais curto era outro. Ela não pára de falar que vai pedir pizza pra jantar. Ele não quer escutar e muito racional entra no google para medir os kms do caminho e provar.

Ela deita emburrada querendo que apenas hoje eles ficassem mais próximos. Ele assiste ao filme querendo que apenas hoje ela fosse mais parceira. Até que com a luz apagada e olhando pra parede, ela diz:
– Você tem razão.

Ele pausa o filme e vira em direção a ela e diz:
– Eu não quero ter razão. Só quero ficar perto.

Ela ri. Ele ri. Ainda era ele, o desencanado. Ainda era ela, encanada. Ainda estava tudo bem.
Ainda eram do jeito que eram juntos, isso que importava. Ainda tinha riso e outro dia amanhã para tentar conversar e ter um pouco menos de razão. Ela deita sorrindo, abraçando ele forte. Ele fica vendo TV na madrugada acariciando o braço dela mesmo ela morrendo de cócegas. Ele pega o celular e coloca para despertar 9:00 da manhã para tentar vê-la mais feliz amanhã.

O celular toca às 9:00. Ele acorda ela com café. Ela querendo agradá-lo diz:
– Vamos dormir até mais tarde hoje?

E ele, rindo por dentro, diz:  Ah, baixinha, deixa pra lá…