Era para ser uma manhã qualquer. Tomar café, procrastinar entre uma tarefa e outra, olhar para a máquina de lavar e pensar que poderia adiar a limpeza em mais um dia.

E, tão avassaladora quanto a tempestade que passa, levando consigo telhados, árvores e esperanças, veio a notícia de que você se foi. Acompanhada dela, a dificuldade em entender que eu te perdi.

Mas foi então que eu percebi que eu não te perdi.

Apesar de todas as mensagens a dizer o quanto lamentam pela minha perda, eu sei que eu não te perdi.

Apesar de você não estar mais ao meu lado, eu sei que eu não te perdi.

Ainda há muito de você em mim.

O jeito afetado de dar risada, jogando a cabeça para trás e mostrando todos os meus largos dentes. Marca registrada sua que levei meses para aprender.

O modo de fazer piadinha com as coisas mais bobas e rir, ainda que ninguém mais ria. Você fazia tanto isso que foi quase imperceptível o momento que deixou de ser um costume seu para ser um costume nosso.

Digo e repito que eu não te perdi.

Porque te perder seria deixar ir a parte de você que existe em mim. E, acredite, houve vezes em que tentei.

Após cada discussão boba, após cada momento de irritação sincera.

Eu desejei apagar a parte de você que havia em mim, para que o simples ato de ser eu não me lembrasse tanto de como era ter você.

Mas, ainda bem, não consegui.

Porque agora, você não está mais aqui. Mas dizer isso é muito diferente de dizer que eu te perdi.

Por que se eu te perdi, me explica como você aparece a cada vez que faço chocolate quente para dizer que Toddy é melhor que Nescau?

Ou, então, me explica a sua insistência em surgir a cada vez que ouço sweet child o’mine para dizer que Welcome to the jungle é o verdadeiro hino?

Ter que te dizer adeus não significa dizer adeus à parte de você que ainda resta em mim. E saber disso me conforta. Porque aonde quer que eu vá, poderei levar um pouco de você.

Porque por mais que eu tente, não consigo processar a ideia de você não estar mais aqui.

E, por hora, como já diria a canção, “já que você não está aqui, o que posso fazer é cuidar de mim”.

E de cada parte de você que, por sorte, ainda guardo em mim.