Você já contou quantas autoras mulheres você aprendeu ou leu na escola? E na faculdade? Pois é, são poucas e ainda mais se for se tratar de mulheres negras. Mas todas nós sempre existimos e resistimos em todas as áreas, cada vez mais estamos crescendo, aparecendo e quebrando barreiras.

Então neste post vamos reunir algumas autoras que você precisa conhecer para ampliar seus conhecimentos, se conectar com outras vivências e enaltecer estas grandes mulheres que já fizeram ou fazem, literalmente, história na sociedade em que vivemos.

> Carolina Maria de Jesus

carolina-bibliotecadesp

Foto: Divulgação/Biblioteca de São Paulo

É muito provável que você, infelizmente, não conheça Carolina Maria de Jesus, ela foi uma das primeiras mulheres negras do Brasil a ser reconhecida como escritora. Neta de negros escravizados e filha de lavadeira, nascida em Minas Gerais em 1914, foi para São Paulo com 23 anos após a morte de sua mãe. Trabalhava como faxineira e à noite como catadora de papel.

Moradora da favela do Canindé, ela escrevia sobre seu dia a dia de mulher negra, pobre, mãe e favelada em seu diário que depois foi transformado no livro “Quarto de Despejo“, tornando-se um best-seller traduzido para 14 idiomas. Carolina foi reconhecida por este e outros livros que escreveu, porém não conseguiu se beneficiar de sua escrita durante toda a vida, voltando para sua condição de catadora de papel e faleceu aos 62 anos em 1977.


“… As oito e meia da noite eu ja estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com o barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenha a impressão que sou um objeto fora do uso, digno de estar num quarto de despejo” (JESUS, 2007, p.38).

> Rupi Kaur

Foto: Divulgação/ rupikaur.com

A Rupi é a mais nova de toda esta lista com 25 anos, ela é autora e ilustradora de duas coleções de livros com poesias ilustradas que há um ano constam em todas as listas de best-sellers mais vendidos em Nova Iorque e já foi traduzido para 30 idiomas diferentes.

Em suas poesias e ilustrações, Rupi aborda temas como amor, perda, traums, cura, feminilidade, migração e revolução.

Tradução livre: “Eles não têm ideia de como é/ deixar sua casa com o risco de nunca mais encontrar sua casa de novo/ ter sua vida inteira dividida entre duas terras/ e se tornar a ponte entre dois países”. Imigrante – Rupi Kaur

> Cora Coralina

cora-divulgacao-secculturarj
Foto: Divulgação/Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro

Cora nasceu em Goiás em 1889, na realidade ela se chamava Ana Lins do Guimarães Peixoto Brêtas. Estudou apenas até a terceira série do ensino básico, mas começou a escrever poemas com 14 anos, mas foi apenas com 75 anos em 1965 que conseguiu publicar seu primeiro livro “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais“.

A autora descreve em seus versos a vida interiorana de forma muito delicada e singela, destacou a realidade das mulheres dos anos 1900 e também fez livros infantis. Começou a ser reconhecida pelo público somente após Carlos Drummond de Andrade ter feito elogios à ela em 1980. Faleceu em 1985 e mais 4 obras foram lançadas postumamente.

“Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota,
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista. ”

Cora Coralina

Trecho do poema “Ofertas de Aninha” do livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”

> Chimamanda Ngozi Adichie

chimamanda-wikicommons
Foto: Wikimedia Commons

Nigeriana, Chimamanda hoje é vista uma das escritoras mais influentes e importantes da atualidade. Em seu primeiro romance “Hibisco Roxo e Meio Sol Amarelo” ela aborda questões de sua terra natal e no romance “Americanah“, discute questões de raça, identidade e gênero. Seu livro “Para educar crianças feministas” surgiu a partir de uma carta que fez a uma amiga de infância, que avisa lhe pedido conselhos de como educar sua filha.

“Ensine-lhe o gosto pelos livros. A melhor maneira é pelo exemplo informal. Se ela vê você lendo, vai entender que a leitura tem valor. Se ela não frequentasse a escola e simplesmente lesse livros, provavelmente se instruiria mais do que uma criança com educação convencional. Os livros vão ajudá-la a entender e questionar o mundo, vão ajudá-la a se expressar, vão ajudá-la em tudo o que ela quiser ser — chefs, cientistas, artistas, todo mundo se beneficia das habilidades que a leitura traz. Não falo de livros escolares. Falo de livros que não têm nada que ver com a escola: autobiografias, romances, histórias. Se nada mais der certo, pague-a para ler. Dê uma recompensa. ”

Chimamanda Ngozi Adichie

Trecho do livro “Para educar crianças feministas”

Sua posicionamento pela defesa das mulheres é extremamente forte e inspirador, como podemos ver em sua palestra do TEDx “Todos nós deveríamos ser feministas”.

> Lygia Fagundes Telles

Foto: Lygia na inauguração da Fachada do Edifício da Academia Paulista de Letras ocorrida no dia 19 de outubro de 2017.

Nascida em 1923, começou a escrever na adolescência e com 15 anos lançou seu primeiro livro “Porão e Sobrado” com a ajuda de seu pai. Traçou em suas obras diálogos importantes para a época sobre o universo feminino de forma moderna, quebrando o moralismo e machismo que colocava as mulheres como inferiores aos homens.

Com um grande engajamento político e social, inseriu estes temas misturando literatura realista e fantástica, publicou até hoje 25 obras, ganhou diversos prêmios importantes como Jabuti e Prêmio Camões, e foi a primeira mulher brasileira a ser indicada para o Prêmio Nobel de Literatura pela União Brasileira de Escritores  em 2016.

“Quero te dizer também que nós, as criaturas humanas, vivemos muito (ou deixamos de viver) em função das imaginações geradas pelo nosso medo. Imaginamos consequências, censuras, sofrimentos que talvez não venham nunca e assim fugimos ao que é mais vital, mais profundo, mais vivo. A verdade, meu querido, é que a vida, o mundo dobra-se sempre às nossas decisões.”

Lygia Fagundes Telles

Trecho do livro “As Meninas”.

> Djamila Ribeiro

Foto: Divulgação Instagram/ @djamilaribeiro1

Nascida em 1980, mestra e pesquisadora em Filosofia Política, feminista e acadêmica, Djamila Ribeiro enriquece hoje, principalmente pela internet e pelos seus dois livros “O que é lugar de fala?” e “Quem tem medo do feminismo negro?” as discussões sobre a vivência e consciência da mulher negra no Brasil.


“Ao perder o medo do feminismo negro, as pessoas privilegiadas perceberão que nossa luta é essencial e urgente, pois enquanto nós, mulheres negras, seguirmos sendo alvo de constantes ataques, a humanidade toda corre perigo.”

Djamila Ribeiro

______________________________________________________________________________

Se inspirou? Conte para nós aqui quais são suas autoras preferidas 🙂