Pesquisas dizem que a gente tem afinidade e se sente melhor na estação do mês em que nascemos. Se isso for verdade, eu estava por um triz de amar o inverno. Aí, foi quando o solzinho leve e o vento na medida certa do outono me seguraram pro lado deles: foi no outono, porque tinha que ser.
Tudo em mim parece funcionar melhor nessa época: minha fome dá as caras depois de um longo verão sem apetite algum e com isso, consigo dar um pé na bunda da hipoglicemia. Minha pressão se equilibra, a maquiagem agradece, o café até fica mais gostoso, não fico mole de calor e nem com aquela dura preguiça do inverno, as botas disputam qual vai sair pra pisar na rua primeiro e os sweaters abrem um sorrisão. Ah…. Outono é mesmo uma festa. O equilíbrio perfeito.
O melhor outono que passei foi em Toronto. Desci do avião a noite com – 5 graus. Putzgrila, tenha dó! Cochilei e depois calcei as botas, o único casaco pesado, um tímido cachecol e lá fui eu em minha própria companhia, conhecer. Pisei fora de casa e dei de cara com uma santa cagada – não no sentido literal – : sem querer, marquei minha viagem na melhor época que meus olhos poderiam imaginar ver. Era perfeito. Era tempo, de outono.
Corro no meio da rua, não de felicidade, mas por ter visto um esquilo e ter cogitado ser um rato – a felicidade tem dessas. Passo na cafeteria, compro um “chá-fé”. Sento no banquinho da praça mais perto que encontro e suspiro como se eu já morasse alí por anos e anos, como quem quer apenas ver o tempo passar. Foi em um momento assim, tão simplório, olhando pro nada que ganhei fôlego para enfrentar o restante dos dias que passei ali, sozinha, comigo mesma e eu. Apesar daquele outono ser – frio – demais pra mim, foi como um SPA pros meus olhos e um verão pro espírito: folhas laranjas forravam as ruas, as árvores amarelas balançavam agraciadas e todo dia a cidade era abençoada com uma luz difusa belíssima. E eu estava alí, caminhando pro nada em busca de tudo ou, só de nada. E era outono na alma, por que precisava ser.
Já faz anos que voltei de lá. Ás vezes é bom relembrar. Reviver a solidão, o silêncio forçado e a saudade que esmagava meu coração. Hoje, como de costume, tomei um cafézinho coado e sentei ao lado dele na sala. Ele, nem percebe nada, ele é dos mais chegados no verão. Já eu, aprecio aquele silêncio e pareço estar vendo aquela imensidão de folhas secas da praça, dentro da sala. Ou melhor, outra vez, dentro de mim. Já era hora de queimar as flores, as folhas e cair. Varrer, recolher, se resolver e aquecer. A melhor época é aquela que muda algo dentro da gente, que faz florescer o melhor de nós, independente de onde ou como estivermos. Renovar, isso é outono. Todo ano, por que tem que fazer.
Eu não sei se aquela pesquisa estava certa mas, podem falar o que quiser, mas pra mim não tem jeito não: outono é minha estação do coração.
É outono. E sempre vai ser, pois sempre é tempo de renovação – o outono, tem dessas. IMG_7869-1-2