Acho que todo mundo tem aquela listinha de coisas que deseja fazer na vida. Confesso que com o passar dos anos, eu fui deixando a minha um pouco de lado. Longe por ser por perder a fé e a vontade de realizar, mas por que o agora está tão legal que desejo respirar e aproveitar. Antes eu lamentaria que queria estar em Roma, Chile com tal e tal roupa. Hoje, eu sei que eu estou onde devo estar, como estou e quero amar cada segundo disso.

Na nossa viagem eu fui com este mesmo espírito. Curti a família, rolei com 6 cachorros, uma gata e nos divertimos feito bobos. Até que no sábado, às onze horas da noite, meu cunhado nos convida para visitar uma cachoeira. Barbinha me olhou com cara de “não quero acordar as 6 da manhã” e eu me lembrei que este era um item da minha lista: Nadar em uma cachoeira. E eu nem lembro o porquê coloquei isso.

Todo mundo fala que cachoeira é uma coisa mágica. Eu sempre achei papo hipongo e nunca botei lá tanta fé. Na verdade, queria ver qual é que é a da bicha. Por fim, quando contei que nunca tinha entrado em uma, Fabinho só faltava me levar naquele momento para o local – mesmo sem saber onde é que era. Moral da história: fizemos nossas troxinhas e em poucas horas estávamos na estrada para conhecer um lugar com vegetação primária e sem interferência. Ou seja, um milagre. Um tesouro.

Descendo a trilha eu já conseguia escutar o barulho da água, corri para molhar meus pés, coloquei o colete salva vidas e fui para o meio. Até então eu sentia a temperatura gelada, mas estava ok. Fabinho me deu as mãos e antes de contarmos até três me disse, “Tem certeza que quer ir de uma vez? É gelada!”. VAMO, VAMO, eu respondi sem pestanejar. O primeiro tibum e senti uma pontada no osso, uma agulhada que me fez levantar enquanto ainda tinha pé e sair correndo. Fiquei alí parada. Parada. Fechei os olhos e contei até 3 umas 4x, até que vi uma mão estendida. Sorrindo, ele dizia, “Você tem que entrar e esperar 15 segundos, então acostuma e fica boa. AHAM. Barbinha já me enfiou em cada roubada nesses 6 anos que, sinceramente, eu sabia que estava em mais uma.

Pulei, mergulhando as pernas, barriga, cabeça e esperei os exatos 15 segundos. Meu corpo estava em choque, como quem diz: CARA, QUE ISSO? PERA.. PERA.. AH… Ficou boa, ele tinha razão. Era como se as nossas temperaturas se equilibrassem, enquanto eu dava braçadas para chegar embaixo da queda. Inventei de olhar pra cima e vi a quantidade de água e a sua força, cravei meus olhos. Meu medo de água estava em alerta me dizendo para voltar, voltar e voltar. Então, resolvi ir de olhos fechados mesmo. Embaixo daquele chuveiro natural, com os olhos cerrados e as mãos dadas, “Viu, baixinha?! Risca esse item da sua lista. Eu falei SÉRIO”. Falou mesmo.

Já tinha esquecido da temperatura gelada, a pontada na canela, o medo da água e o desespero de afogar. Precisei de uma mão amiga para o impulso e a vontade de realizar um item que, como tudo na vida, é preciso se lançar, mesmo que seja desconfortável no começo. Pisei meus pés na areia e senti todo meu corpo regenerado e como se estivesse em vibração.

Os hippies tinham razão. Se você quer levar um chacoalhão bem dado da vida, a natureza quebra o seu galho.

Cachoeira é coisa SÉRIA. E ter um amigo afim de realizar a sua lista da vida também. Recomendo.