“Maratonista tem que gostar de sofrer” foi uma frase que escutei entre duas pessoas correndo no parque hoje…

6am. Da janela, já dava para ver que seria um dia lindo. Enquanto eu sorria, pensava “nem pra garoar para eu ter uma desculpa”. No corpo, a vontade grande de ficar emaranhada no edredom que parece um abraço de nuvem. Por dentro, uma vontade de levar a alma pra passear. Espio minha roupa separada na cadeira. Penso: vou contar até 5, levantei no 3 – no 5 eu desistiria.

Quase nunca tenho vontade de correr. Tenho saudade de viver a vida enquanto corro. Isso sim, é digno de saudade. Mas saudade não adianta em nada. Correr é agora.

Sai um zumbi e então um ser resolve acelerar no farol fechado me forçando a dar um pique. Pulo para a calçada, apoio o pé em uma pedra e a bendita sai rolando. Continuo correndo e sinto meu tornozelo. Saco. 800m. Paro o relógio. Caminho um pouco, o corpo esquenta, passa. Continuo. Hoje, era 24k, resta quase 23k.

Entro no parque. 1 volta, quero meu edredom. 2 volta, feliz que estou aqui, mas a cabeça ainda está lá. Começo me forçar a prestar atenção no que está ao meu redor. AGORA. Grama, sol, cachorro, criança, respiração. Duas pessoas conversam na minha frente: “maratonista tem que gostar da dor, de sofrer” comecei a pensar que inclusive já ri quando me disseram isso.

Aqui, desse sofrimento, não me refiro a dor física e sim no famoso desconforto, quando sua mente desiste antes do corpo – e a treta é grande. Peitar a sua mente e seus truques é desafiador. E doloroso. Tem que querer não apenas chegar, mas estar ali, no agora.

Corri. Menos, mas terminei. Cautelosa, sentindo meu corpo, tretando e fazendo as pazes comigo. Correr não é pra quem gosta de sofrer. Ninguém gosta. A dor está ali, ela vem e vai existir.

Correr é pra quem aprende que todo sofrimento tem um fim.

E depois dele, vem paz. Como nunca sentida antes, pois cada passo é único. 

Então, cheguei e voltei pra minha nuvem de edredom. No céu, em paz. A paz que eu corri atrás.