{"id":3806,"date":"2013-12-09T09:00:40","date_gmt":"2013-12-09T09:00:40","guid":{"rendered":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/?p=3806"},"modified":"2017-12-20T15:05:08","modified_gmt":"2017-12-20T15:05:08","slug":"dialogos-a-saudade-o-melao-e-a-vida-no-plural","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/dialogos-a-saudade-o-melao-e-a-vida-no-plural\/","title":{"rendered":"> A saudade, o mel\u00e3o e a vida no plural"},"content":{"rendered":"

Aquela era uma noite de ter\u00e7a-feira, com um calor insuport\u00e1vel daqueles quase imposs\u00edveis de dormir. Deitei e fiquei por um bom tempo olhando pra aquele teto gasto e de tinta amarelada, mas aconchegante. Lucy estava deitada esparramada dormindo no piso que estava geladinho. A casa estava ainda com barulho da TV e uma leve brisa das janelas abertas. Escutei de longe os barulhos dos p\u00e9s dele e uma porta e janela sendo trancadas. Ele chegou, deitou do meu lado e mesmo cansado, resolveu me acompanhar olhando pro alto. At\u00e9 que saudosamente come\u00e7amos a falar da vida, voc\u00eas sabem: “voc\u00ea ligou pro carreto? a roupa do varal secou?” at\u00e9 “lembra quando t\u00ednhamos tempo de sobra para cozinhar? e do dia em que derramei leite na parede?” e assim, r\u00edamos com o passado. Conversa vai, conversa vem. As palavras voaram da minha boca dizendo:
\n– O que eu mais te ensinei nesses 4 anos? – ele deu uma risadinha e o sil\u00eancio ficou no ar.<\/p>\n

Eu sabia que minha resposta corria um risco. Na verdade, eram 3 riscos: Primeiro, quem n\u00e3o trava quando nos perguntam essas coisas?. Segundo, ningu\u00e9m gosta desse tipo de conversa. Terceiro, ele n\u00e3o \u00e9 um homem de longos discursos, eu sabia, mas de pequenas e doces atitudes. E enquanto tudo isso passava na minha cabe\u00e7a, ele espontaneamente respondeu:
\n– J\u00e1 sei! Tu me ensinou a gostar de comer mel\u00e3o.
\n<\/a>
\nJura, meu amigo?! Mas, na hora eu ri, ri demais.\u00a0Pois ele disse a coisa mais \u00f3bvia dos \u00faltimos dias. E ele me abra\u00e7ava forte rindo sem parar.\u00a0A luz apagou. A casa agora estava silenciosa e j\u00e1 n\u00e3o tinha mais o teto para enxergar. E ent\u00e3o eu que estava para virar, dormir e aceitar a tal resposta do mel\u00e3o como meu trof\u00e9u em 4 anos de relacionamento e amizade juntos, escuto agora uma voz um pouco mais leve que dizia:<\/p>\n

Tu me ensinou a dizer “nosso” e n\u00e3o “meu”.<\/strong><\/p>\n

Sorri por dentro, com todos os jeitos e formatos de sorrir. Pode parecer demais, mas eu sorri assim, eu juro. Sempre tem um lado do amor que se entrega mais r\u00e1pido que aceita a vida conjunta de uma vez. E eu me lembrei que essa era eu,\u00a0 h\u00e1 4 anos atr\u00e1s, chorando com a maquiagem borrada no travesseiro, pensando e imaginando onde tudo iria parar e se um dia esse algu\u00e9m saberia conjugar a vida no plural comigo ou se seria apenas mais uma saudade. E ele queria, mas precisava do seu tempo, agora eu entendia. E hoje, divido a saudade do que j\u00e1 vivemos, junto com ele, que sonolento falou com a cabe\u00e7a enterrada no travesseiro:
\n– Pequena, voc\u00ea sabe, n\u00e3o se pode viver s\u00f3 de saudade..<\/p>\n

Parecia que ele estava ouvindo o que eu pensava ali, quietinha na minha cabe\u00e7a. Me virei e sorria sozinha por dentro vendo o quanto era bom reviver, redescobrir e renascer. Eu j\u00e1 n\u00e3o era mais uma menina de 18 anos com interroga\u00e7\u00f5es apaixonadas no olhar. Eu j\u00e1 sabia respirar e achar gra\u00e7a mesmo se fosse pelo pr\u00eamio do mel\u00e3o.<\/p>\n

E esse era o t\u00e3o inocente e fanfarr\u00e3o do amor, outra vez me relembrando: que nem s\u00f3 de saudade vive o amor. E nem s\u00f3 de pronomes no singular, vive o homem.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Aquela era uma noite de ter\u00e7a-feira, com um calor insuport\u00e1vel daqueles quase imposs\u00edveis de dormir. Deitei e fiquei por um bom tempo olhando pra aquele teto gasto e de tinta amarelada, mas aconchegante. Lucy estava deitada esparramada dormindo no piso que estava geladinho. 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