Uma noite eu estava no banheiro, secando o cabelo e pensando na vida. Na verdade, apenas pensando na vida, olhando pro nada e segurando o secador sem dire\u00e7\u00e3o. Me virei e l\u00e1 estavam os dois, Fabinho e Lucy sentadinhos no ch\u00e3o, brincando um com o outro e olhando pra mim, sorrindo e rindo. Por alguns segundos j\u00e1 n\u00e3o me importei mais com o que estava pensando. Ele percebeu que nem tudo estava t\u00e3o bem e insistiu para que eu falasse. Encostei na porta e tentei explicar o que nem eu conseguia entender (e olha, minha gente, nem TPM era).
\nEle me abra\u00e7ou ali no corredor. Lucy, por um milagre divino, sentou-se ao lado daquele abra\u00e7o e ficou olhando e olhando, sem interromp\u00ea-lo. Eu me arrisco a dizer que at\u00e9 ela compreendeu o momento que eu precisava. Ent\u00e3o, ele olhou pra mim, segurou meu rosto firme e disse, com brincadeira no olhar:<\/p>\n
– Voc\u00ea s\u00f3 sabe querer, baixinha.<\/p>\n
Fiquei com aquela frase na cabe\u00e7a por semanas. Mas, sem conseguir entender completamente o que ela queria dizer. Afinal, eu n\u00e3o queria muita coisa! Eu queria apenas que algumas coisas se encaixassem e outras terminassem. Eu queria acampar ou fazer uma mochil\u00e3o sem frescura, sem muita grana. Queria que o tempo passasse logo, mas tamb\u00e9m que em outros momentos ele parasse ou me desse mais horas, mais dias e mais chances. \u00c9, talvez eu quisesse demais. Sei n\u00e3o.
\nOutra noite, est\u00e1vamos pensando no que jantar. Ele, o rei dos junta tudo e p\u00f5e no prato, me convenceu a comer o que tinha na casa: macarr\u00e3o, manteiga e um p\u00e3o. A \u00e1gua come\u00e7ou a ferver e eu disse que queria fazer a compra do m\u00eas e queria porque queria e queria. QUERIA. Ele, lavando a lou\u00e7a virou e, mais uma vez, me disse:
\n– Voc\u00ea s\u00f3 sabe querer, baixinha.
\n– N\u00e3o! – e tentando me explicar respondi:\u00a0 S\u00f3 tenho saudade de ter mais tempo e op\u00e7\u00f5es para cozinhar algo especial pra voc\u00ea, pra gente.
\nEnxaguando um prato, ele me olhou nos olhos e disse:
\n– Ent\u00e3o… cozinha algo especial pra mim. Que tal um macarr\u00e3o com manteiga?<\/p>\n
Naquele momento, eu me dei conta de quem eu tinha ao meu lado. N\u00e3o era algu\u00e9m que me completava, mas algu\u00e9m que me ensinava o que, no dia-a-dia, estava t\u00e3o dif\u00edcil de conseguir enxergar sozinha.<\/p>\n
Virei pra ele e disse com sinceridade e sem pensar:
\n– Por isso que eu tenho voc\u00ea, pra me lembrar do que eu tenho e apenas agradecer por isso.<\/p>\n
A vida algumas vezes nos prega pe\u00e7as. Ou melhor, prega toda hora. Afinal, eu fiquei semanas pensando que eu tinha que querer menos. Quando na verdade, o que ele queria me dizer era que eu tinha que olhar ao redor e viver. Viver bem.<\/p>\n
Algumas vezes, a vida nos d\u00e1 pessoas que enriquecem nossa vida. Pessoas que nos fazem olhar o que temos e dar valor. E agradecer por aquele momento sem deixar brechas pra pensar: “Mas eu queria tanto…”
\nPessoas que nos fazem querer APENAS viver o bem que temos. Porque, querer fazer o bem, nunca \u00e9 demais. Certo? \u2661<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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