{"id":19384,"date":"2022-01-06T23:13:06","date_gmt":"2022-01-06T23:13:06","guid":{"rendered":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/?p=19384"},"modified":"2022-01-27T11:05:13","modified_gmt":"2022-01-27T11:05:13","slug":"2022-eu-to-aqui","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/2022-eu-to-aqui\/","title":{"rendered":"2022: “eu t\u00f4 aqui !”"},"content":{"rendered":"\n

Eu n\u00e3o sei voc\u00ea mas eu estava precisando de um ano novo.<\/p>\n\n\n\n

Novo, de novo. Ainda que fosse um clich\u00ea. <\/p>\n\n\n\n

Ainda que eu saiba que posso e devo come\u00e7ar sempre que for preciso. Eu queria um ano novo. Ano novo com branco, dourado, prateado, risadas que ensurdecem, banho de champanhe e at\u00e9 onda do mar eu pularia. <\/p>\n\n\n\n

Estava precisando encerrar um ciclo.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Um n\u00e3o, tantos. Alguns que, inclusive, eu n\u00e3o sei como nomear. E isso de maneira nenhuma \u00e9 ruim. Tenho gostado do quanto a vida tem me feito perder as palavras. Coisa que antes eu entraria em completo desespero. Hoje, aceito como um presente de que posso ficar quieta, na minha e economizar meus versos ou deix\u00e1-los soltos e livres para n\u00e3o precisarem rimar. <\/p>\n\n\n\n

Tenho o costume de dar nome a cada ano novo. Assim consigo separar os anos conforme eventos ou momentos.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 tive o ano novo que “eu fiquei bem bem doida na sala com uma amiga”, o que “eu me perdi e fiquei dando volta na quadra da festa” e o que “ele me deixou e eu n\u00e3o tava na vibe de sair e dormi no sof\u00e1”. V\u00ea se pode. Tamb\u00e9m tive o “abracei muito a minha av\u00f3” e “o ano em que realizei muitos sonhos mas o mundo estava em um apocalipse” – esse \u00faltimo voc\u00ea sabe bem que ano \u00e9. <\/p>\n\n\n\n

Tive a sorte de realizar algumas coisas que eu queria muito, mas o azar de ser em meio uma pandemia. Me senti reclusa, me senti impedida e culpada por estar feliz. Pe\u00e7o licen\u00e7a pra dizer, feliz pra caralho. Com meu filho no colo, mesmo em meio a uma crise do trabalho, continuei a correr na medida do poss\u00edvel, me formei na minha p\u00f3s. Tamb\u00e9m tive o azar de estar mais longe da fam\u00edlia e de n\u00e3o poder estar ao lado no dia em que minha a sogra partiu deste mundo. Pra ter sorte, nem tudo pode ser sobre sorte. Esse \u00e9 o lado sombrio de 2020 e 2021. Os anos em que eu mal consigo dividir em dois. <\/p>\n\n\n\n

Como mencionei, em outubro desse ano eu precisei me despedir de algu\u00e9m que amo muito. Minha sogra. Desde que a conheci eu me apaixonei perdidamente por quem ela \u00e9. Boa de papo, querida, direta, ga\u00facha e boa de vinho. Minha sogra sabia receber as pessoas, olhava nos olhos para conversar e estava interessada em te ouvir e n\u00e3o s\u00f3 em falar. Minha sogra contornava bem a situa\u00e7\u00e3o seja ela qual fosse. Minha sogra era uma amiga, uma mulher, uma pessoa especial na minha vida. Inclusive: 6 anos atr\u00e1s ela tinha descoberto um c\u00e2ncer no ov\u00e1rio e, mesmo com o mundo caindo, decidiu come\u00e7ar uma nova faculdade em Filosofia. Nesse final de ano, em sua casa, olhando suas coisas, pude ouvir a sua movimenta\u00e7\u00e3o e, manter viva, dentro de mim, suas palavras. N\u00e3o devo dizer adeus para deixar algu\u00e9m partir. Preciso manter viva quem me encheu de tanta vida. <\/p>\n\n\n\n

Nestes 12 anos de amizade a minha sogra me inspirou a viver.<\/strong> Nos seus \u00faltimos anos de vida, ela basicamente me ensinou muito sobre morrer. Conversamos tanto sobre o assunto que um dia ela disse: talvez nos achem doidas n\u00e9, Isa? E eu ri, seguida dela dizer: que achem! <\/p>\n\n\n\n

Lembro da nossa virada do ano de 5 anos atr\u00e1s, em que eu apelidei: a virada em que minha sogra comemorou que estava viva imitando o Darth Vader. Foi incr\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Zilda estava com duas ta\u00e7as nas m\u00e3os e gritava: eu t\u00f4 aqui! eu t\u00f4 aqui! eu virei mais um ano!<\/strong> Ela ria e brincava que a sua peruca era o capacete do Darth Vader. <\/p>\n\n\n\n

Minha sogra tinha tes\u00e3o por viver.<\/strong> Era contagiante. Uma sede por estar onde est\u00e1, por desejar cada segundo seguinte mesmo sem saber qual era e o que a esperava em seguida. A vida n\u00e3o a assustava. N\u00e3o porque ela aguentava tudo sozinha. Mas, porque ela oferecia e aceitava ajuda. A vida assim era sempre como uma grande colabora\u00e7\u00e3o e celebra\u00e7\u00e3o. Como se cada um fizesse um pouco da ceia e n\u00e3o sobrecarregasse ningu\u00e9m e todos ficassem de barriga cheia – e quem n\u00e3o ficasse satisfeito, teria dois trabalhos, “o de ficar reclamando e desficar”, ela diria.<\/p>\n\n\n\n

Meu come\u00e7o de ano, n\u00e3o teve nada do que eu esperava. Nada do que imaginei, mas foi novo. Foi o meu novo.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Talvez por isso, eu precisasse tanto de um ano novo. Pra sentir novo de novo. O frio na barriga, os clich\u00eas, as doses erradas e a ressaca dif\u00edcil. Tudo. A sorte e o azar. T\u00f4 afim disso tudo. <\/p>\n\n\n\n

T\u00f4 afim de uma dose a mais. T\u00f4 afim de fazer diferente, t\u00f4 afim de fazer o mesmo, t\u00f4 afim de viver. Pe\u00e7o licen\u00e7a mais uma vez pra dizer: t\u00f4 afim de ser feliz pra caralho. E isso, esse gosto de vida, \u00e9 bom demais e \u00e9 de verdade.<\/p>\n\n\n\n

Esse ano, quando o rel\u00f3gio bateu 23:40 do dia 31 de dezembro, ainda est\u00e1vamos em 2021, mas eu estava vivendo no meu tempo. Estava exausta, de saco cheio do covid, mas ergui minha ta\u00e7a aos c\u00e9us e disse: Eu virei o ano. Eu t\u00f4 aqui, 2022. Voc\u00ea est\u00e1 em meu cora\u00e7\u00e3o, sogra.<\/p>\n\n\n\n

E essa virada eu apelidei de: o ano em que eu Zildei. Dedico \u00e0 minha sogra, que nunca desperdi\u00e7ou a chance de viver, mesmo depois de partir a sua vida continua contagiante e inspiradora.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 \u00e9 2022 e voc\u00ea est\u00e1 aqui. VIVA, VIVA!<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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