Nunca fui muito boa em lidar com as coisas de pernas pro ar. Sou daquelas que dobra a ponta da fita crepe depois que usa, passa uma \u00e1gua no prato pra ficar mais f\u00e1cil de lavar e tira a roupa e j\u00e1 guarda pra n\u00e3o acumular. Alguns anos isso me deu paz, outros tempos me atormentou. \u201cN\u00e3o d\u00e1 pra ter tudo\u201d muita gente j\u00e1 falava e eu concordava mas pensava: ah, mas s\u00f3 mais um pouquinho d\u00e1? D\u00e1 n\u00e9. E dava, mas me tirava uma dose da minha paz, me fazia abrir m\u00e3o da alma.
Por anos as cadeiras do nosso quarto foram o arm\u00e1rio do Fabio. E eu dizia \u201ccomo voc\u00ea consegue?\u201d N\u00e3o consigo dormir vendo isso\u201d. Ele ria, me imitava (e eu ficava doida pq ele me imita muito bem ) e dia sim dia n\u00e3o ou dia sim e dois dias n\u00e3o, dobrava e guardava. Fomos encontrando o meio termo entre n\u00f3s dois, mas o meu meio termo comigo ainda era desafiador e como demorei pra enxergar.
Abril desse ano, Levi cochilava, eu dobrava roupa e ele brincava com Lucy e Ringo no quintal. Ringo correndo desengon\u00e7ado, Lucy com meio metro de l\u00edngua pra fora, aquela cena que tem sabor de felicidade. N\u00e3o percebi mas fui deixando a roupa na cadeira, abri a porta, sentei na grama pra rir deles e disse me engasgando n\u00e3o risada: \u201ccomo voc\u00eas conseguem?\u201d Me peguei nas minhas pr\u00f3prias palavras. Lembrei de quantas vezes deixei de olhar pra mim ou pra fora pra deixar uma cadeira livre de roupas – as miser\u00e1vi que n\u00e3o s\u00e3o nem pra lavar e nem pra guardar.
A cadeira continuaria ali.
As roupas v\u00e3o e vem.<\/p>\n\n\n\n
Passaram dias e a (minha) roupa continuou ali. Fabinho me olhou e disse:
u\u00e9, como voc\u00ea conseguiu? Agora n\u00e3o tem espa\u00e7o pras minhas. E ri n\u00e9<\/p>\n\n\n\n
Eu, por vezes seguia com calma, mas deixava a alma escapar. Outras vezes, a minha calma eu topava perder por algo que n\u00e3o era tudo pra mim.<\/p>\n\n\n\n
N\u00e3o d\u00e1 pra ter tudo… n\u00e3o msm. Vou mentir se dizer que ainda n\u00e3o tento em v\u00e3o me enlouque\u00e7o, lacrimejo e depois dou risada de mim. Lembro- me que se for pra enlouquecer, que seja com os meus e n\u00e3o por roupas na cadeira.<\/p>\n\n\n\n
Se a vida t\u00e1 de pernas pro ar, tento ver os dias de outra forma, mas n\u00e3o deixo mais a alma escorrer pelas minhas m\u00e3os. Viro e durmo em paz… Uma dose de caos as vezes cai bem \ud83e\udd17 #NadaAl\u00e9mdoSimples<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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