Se me perguntarem a coisa que eu mais odeio, eu direi de imediato que n\u00e3o odeio nada, com tanta for\u00e7a assim, imagina. Por\u00e9m, se me der mais alguns segundos eu vou balan\u00e7ar a cabe\u00e7a, torcer a boca e dizer: ficar doente.<\/p>\n
N\u00e3o sou uma pessoa nada agrad\u00e1vel quando fico doente. Fico entediada e irritada. N\u00e3o gosto da ideia de me sentir indisposta, depender de algu\u00e9m pra cuidar de mim, n\u00e3o conseguir ajeitar a casa, atrasar trabalho e ficar o dia todo olhando para o teto. Pois bem. Aprendi que o melhor rem\u00e9dio para evitar tudo isso era me alimentar bem e cuidar minha sa\u00fade ao m\u00e1ximo. Legal, ajudou muito mas, n\u00e9, isso n\u00e3o me fez virar um rob\u00f4. Semana passada peguei uma virose da-que-las. 40 graus de febre e uma tosse a cada 10 segundos que parecia que meu pulm\u00e3o sairia de mim a qualquer momento. Minha primeira rea\u00e7\u00e3o ao perceber os sintomas, foi deitar a cabe\u00e7a na cadeira do escrit\u00f3rio, respirar fundo e dizer em voz alta “era tudo que eu n\u00e3o precisava para essa semana”.<\/p>\n
Quem disse que n\u00e3o?<\/p>\n
Em abril, fiquei gripada e minha m\u00e3e me disse “Filha, \u00e1s vezes isso \u00e9 o seu corpo pedindo para descansar. Aproveite”. N\u00e3o sei se era o caso desta vez, mas quando lembrei disso, tudo me fez sentido. S\u00e9rio. Acompanha o racioc\u00ednio: eu estava bem > percebi que fiquei doente e isso tirou minha paz\u00a0 > reclamei > fiquei pior. Eu poderia ter interrompido este ciclo muito antes de ficar pior.<\/p>\n
A boa not\u00edcia \u00e9 que nunca \u00e9 tarde demais para ser grato ou perceber que reclamar n\u00e3o leva a nada. A gente escuta muito sobre a gratid\u00e3o, a gente sabe que precisa agradecer, mas n\u00f3s achamos que precisamos fazer isso s\u00f3 quando algo incrivelmente maravilhoso e digno de fogos de artif\u00edcio acontece na nossa vida. A gente sabe que as pequenas coisas, na verdade s\u00e3o grandes, mas as deixamos passar em branco todo santo dia. Por qu\u00ea?<\/p>\n
Reclamar \u00e9 um h\u00e1bito<\/strong>. Quando algo de ruim, dif\u00edcil de aceitar e doloroso acontece \u00e9 praticamente autom\u00e1tica a rea\u00e7\u00e3o de reclamarmos ou brincarmos ironicamente reclamando. A pr\u00f3xima vez que isso acontecer, perceba o efeito que reclamar te causou. \u00c9 abstrato de explicar, por\u00e9m reclamar gera algo dentro de n\u00f3s. Algo como uma mancha que parece se espalhar cada vez mais a medida em que potencializamos este sentimento tornando aquele problema, que era ainda um pontinho pequeno, ficar muito pior.<\/p>\n Naquele momento, eu n\u00e3o estava s\u00f3 gripada. Minha reclama\u00e7\u00e3o me lembrou que eu estava com c\u00f3lica, com meu dente doente, trabalho atrasado, reuni\u00e3o, evento, edi\u00e7\u00e3o para finalizar, documenta\u00e7\u00e3o para resolver e problema no banco. Parab\u00e9ns! Agora eu tinha o problema e todos os outros problemas que a minha reclama\u00e7\u00e3o trouxe de bagagem.<\/p>\n Percebe?<\/p>\n Da mesma forma que reclamar \u00e9 um h\u00e1bito, a gratid\u00e3o tamb\u00e9m pode se tornar parte do nosso dia a dia. Quando percebi todo esse rebuli\u00e7o da gripe acontecendo eu fechei minha agenda, terminei algumas liga\u00e7\u00f5es, ajeitei o que podia naquele momento, preparei um ch\u00e1 de gengibre e deitei no sof\u00e1. Estava tudo bem. Percebi que de alguma maneira eu precisava passar por aquele momento tedioso e tirar proveito dele. Meu namorado tamb\u00e9m pegou e passamos a noite rindo um do espirro do outro.<\/p>\n Briguei e me policiei comigo mesma o final de semana inteiro. Eu nunca tinha percebido a rea\u00e7\u00e3o t\u00e3o direta que reclamar tornava tudo pior. Ainda era dif\u00edcil, ou quase imposs\u00edvel, agradecer aquela situa\u00e7\u00e3o, mas eu n\u00e3o fazia mais parte daquele ciclo. Inventava algo para rir, ler, distrair e conversar, n\u00e3o reclamar.<\/p>\n “Agradecer \u00e9 uma arte” era para ser o t\u00edtulo deste post, entretanto agradecer \u00e9 uma escolha<\/strong>. Uma escolha simples, mas muitas vezes dif\u00edcil. \u00c9 duro de aceitar que somos respons\u00e1veis por todo o turbilh\u00e3o que acontece em n\u00f3s e, n\u00e3o estou dizendo que ficaremos incrivelmente bem depois que tivermos consci\u00eancia de tudo isso.<\/p>\n Uma coisa eu posso garantir: ficaremos a cada dia mais leves e em paz. E t\u00e1 \u00f3timo. N\u00e3o d\u00e1 para reclamar, n\u00e9? \ud83d\ude09<\/p>\n Interrompa o ciclo vicioso: agrade\u00e7a e sinta algo belo em expans\u00e3o dentro de voc\u00ea.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Se me perguntarem a coisa que eu mais odeio, eu direi de imediato que n\u00e3o odeio nada, com tanta for\u00e7a assim, imagina. Por\u00e9m, se me der mais alguns segundos eu vou balan\u00e7ar a cabe\u00e7a, torcer a boca e dizer: ficar doente. N\u00e3o sou uma pessoa…<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":15432,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1469,1024],"tags":[1307,1985,1984,1306,1983],"yoast_head":"\n