{"id":15248,"date":"2017-09-05T11:17:15","date_gmt":"2017-09-05T11:17:15","guid":{"rendered":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/?p=15248"},"modified":"2017-09-05T11:18:53","modified_gmt":"2017-09-05T11:18:53","slug":"5-anos-de-lucy","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/5-anos-de-lucy\/","title":{"rendered":"> 5 ANOS DE LUCY"},"content":{"rendered":"

Aquele foi um dia comum super incomum<\/strong><\/p>\n

Chuviscou o tempo todo naquele dia s\u00f3 para deixar a hist\u00f3ria mais dram\u00e1tica e real, mas, ainda assim, era um dia comum como outro qualquer para n\u00f3s. Quer dizer, a gente pensava. Ele iria para um est\u00fadio trabalhar com sua barba desgrenhada e ela trabalharia em casa ao som da televis\u00e3o que nem ao menos assistia – ligava s\u00f3 para ter barulho na casa como companhia. No fim da tarde ele liga, contando que brincou com uma cachorrinha linda, d\u00f3cil e super carinhosa na rua. Isso, pra gente, n\u00e3o \u00e9 novidade nenhuma. J\u00e1 chegamos ao extremo de car\u00eancia canina de entrar em um hotel de cachorros, fingir ter um, s\u00f3 para brincar e ser lambido por todos os cachorros de l\u00e1. Isso era o que aconteceria na nossa cabe\u00e7a. No final todos os cachorros ficavam protegidos por um vidro para um imenso quintal. Sa\u00edamos de l\u00e1 pensando que estava na hora de aumentar a fam\u00edlia. Est\u00e1 na hora de termos mais um para esmagar em uma noite gelada, algu\u00e9m para preencher o barulho da casa em um dia calado, animar os passeios e ouvir nossos desabafos com uma opini\u00e3o neutra.
\nEra isso tudo o que faltava.<\/p>\n

Mas n\u00e3o \u00e9 bem a gente quem decide essas coisas.<\/p>\n

Aquele dia ele me contava com uma empolga\u00e7\u00e3o extrema que ela era super companheira e j\u00e1 andava ao lado do filho do amigo dele sem coleira e eu, nesse momento, estava sentada no sof\u00e1 sorrindo, com uma m\u00e3o segurando o celular na orelha e a outra esfregando os meus p\u00e9s gelados de frio ouvindo toda a saga daquela cachorrinha perdida. E o fim\u00a0da hist\u00f3ria? Ele chegou em casa, me mostrou a foto que ele e a cachorra tiraram juntos e me contou que ela tinha encontrado\u00a0um lar: iria embora com o filho do amigo dele para a casa e teria uma nova vida, um novo rumo, teria quem chamar de fam\u00edlia. E isso, pra quem, como n\u00f3s, adora um final feliz com um cachorro a salvo, era o melhor dos finais que poder\u00edamos ter aquele dia.<\/p>\n

Eu pensava comigo mesma o quanto aquela cachorrinha tinha de sorte por estar no lugar certo e na hora certa, mas quem estava, na verdade, era ele. Ele sorria feito besta com ela nos bra\u00e7os na foto.<\/p>\n

Esse era s\u00f3 o fim de um dia comum e bem feliz para aquela cachorrinha. E eu? Ainda estava na companhia vazia\u00a0do barulho da TV ligada, abra\u00e7ando meu caf\u00e9 entre as m\u00e3os e passando um frio danado nos p\u00e9s. E ainda n\u00e3o era inverno. Era um frio que cobertor nenhum consegue resolver e esquentar. Um frio de casa vazia. Um frio de um novo momento na vida de quem vivia a vida em quatro p\u00e9s – e precisava de um algo a mais.<\/p>\n

No meio do caminho tinha uma cachorra<\/strong><\/p>\n

O dia seguinte ao\u00a0dia comum, come\u00e7ou mais comum ainda. Era dia 06 de abril.
\nEu tirei meu pijama, lavei o rosto, fiz meu caf\u00e9, trabalhei, almocei, tomei outro caf\u00e9, me despedi dele e segui caminho para fazer a minha \u00faltima prova da faculdade. Meu celular tocou e por um instante n\u00e3o o atendi – odeio falar no telefone e odeio falar no telefone em ambiente fechado com outras pessoas.\u00a0Era rotina at\u00e9 as 16h30, mais ou menos, at\u00e9 que..<\/p>\n

Ele acordou cedo, vestiu uma roupa qualquer, lavou o rosto, ajeitou a barba, tomou caf\u00e9, se despediu de mim, foi trabalhar e me ligou.\u00a0Desta vez, eu atendi.<\/p>\n

Atendi o telefone e, quando desliguei, l\u00e1 estava ele me contando o cl\u00edmax da semana, do m\u00eas, do ano e at\u00e9 mais. A rotina, para terminar o meu dia, seria a mesma, mas eu sabia que algo seria diferente quando eu abrisse a porta do quarto.<\/p>\n

\u201cMas que cachorra?\u201d E ele desligou o telefone e s\u00f3 sabia que ela tinha 19 quilos, porte m\u00e9dio e que eu surtaria quando visse o tamanho dela em 45m\u00b2. Com 0 ou 10 na prova, eu s\u00f3 queria estar em casa e poder viver tudo isso que eu j\u00e1 sentia em outro lugar.<\/p>\n

O dia j\u00e1 n\u00e3o era mais comum e, desde ent\u00e3o, nunca mais foi – e a gente queria isso j\u00e1 fazia tempo. Ser\u00edamos um time. Ou melhor, j\u00e1 \u00e9ramos desde as 16h30 da tarde, pois no meio do caminho tinha uma cachorra, com o desenho de um cora\u00e7\u00e3o no fu\u00e7o, que seria o come\u00e7o de muita coisa: uma fam\u00edlia. Pois um lar, j\u00e1 \u00e9ramos h\u00e1 tempos.<\/p>\n

“A cachorra da foto”, ganhou o nome de Lucy e nossos dias nunca mais foram os mesmos. O maior achado que a vida poderia nos dar. A respons\u00e1vel, desde ent\u00e3o, pelas nossas melhores hist\u00f3rias.<\/p>\n

Depois deste dia, sempre atendo o celular quando ele me liga e, se ele diz “achei algo legal e acho que vou levar para a casa”, eu s\u00f3 digo sim. \u00cata cara de sorte!<\/p>\n

Afinal, ele achou um diamante na rua.<\/p>\n

 <\/p>\n

 <\/p>\n

Ps: Escrevi esses 2 textos 3 anos e meio atr\u00e1s e foi imposs\u00edvel n\u00e3o postar aqui.
\nAgrade\u00e7o todos os dias por estes dias terem existido.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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