Era janeiro quando o conheci. Ele era em ess\u00eancia exatamente como \u00e9 hoje. Conheci ele de t\u00eanis, mas depois s\u00f3 o vi de chinelo nos p\u00e9s. Em poucas horas foram incont\u00e1veis as vezes que chorei de rir. A piada dele fazia sentido e, se n\u00e3o fizesse, valia a pena rir s\u00f3 para v\u00ea-lo sorrir. Decorei os sorrisos dele em poucos dias. Vivemos anos em semanas, s\u00e9culos em um m\u00eas. N\u00e3o contamos dias, n\u00e3o marcamos datas e at\u00e9 tentamos fugir um do outro – mas n\u00e3o deu. A gente se queria assim: juntos.<\/p>\n
Ele gostava de conversar assim como eu, mas a gente sabia a hora de ouvir o outro, n\u00e3o era preciso pedir. Desde o in\u00edcio ele queria me ver sorrir e, quando eu come\u00e7ava a chorar sem motivos, era ele quem ria de mim. Organizei a caixa de contas dele como se fosse minha, fez sentido pra ele. Ele me deu um livro que faltava na minha cole\u00e7\u00e3o. Ele observava tudo e todos sempre. Parecia uma boa companhia para conhecer e criar mem\u00f3rias pelo mundo.<\/p>\n
Ele gosta do ver\u00e3o, sol e dias de c\u00e9u azul, mas me ensinou a curtir um dia sem fazer nada, coisa que eu nunca consegui, como ningu\u00e9m. Com ele era confort\u00e1vel pensar que tudo bem n\u00e3o querer fazer e resolver tudo. Afinal, t\u00ednhamos ali tudo, sem saber disso. Quando descobrimos, ele resolveu me pedir em namoro. J\u00e1 t\u00ednhamos nos pedido sem pedir h\u00e1 um bom tempo. Ajoelhamos juntos: sempre estivemos no mesmo n\u00edvel.<\/p>\n
Ele conquistou tudo. Meus amigos, fam\u00edlia, bichos e at\u00e9 ex meu. Bom de contar hist\u00f3rias, fazer contas, pegar um viol\u00e3o quando ningu\u00e9m espera e servir algo gostoso para comer sem ningu\u00e9m dizer que est\u00e1 com fome. Ele \u00e9 um anfitri\u00e3o de primeira, sem esfor\u00e7os. Ainda bem que isso foi contagioso, eu era p\u00e9ssima. Um grande parceiro para dormir, chorar, fazer uma receita de bombom na madrugada ou cantar m\u00fasicas bregas de karaok\u00ea. Casamos, adotamos cachorros, reformamos, constru\u00edmos, erramos receitas, nos trancamos para fora da casa, viajamos, rimos e brigamos. A gente vive sem medo de passar perrengue com o outro.<\/p>\n
Ele sempre acreditou em mim, desde o nosso primeiro encontro que n\u00e3o teve encontro. Acreditou que eu poderia fazer um m\u00f3vel sozinha, carregar 20kg de ra\u00e7\u00e3o e correr uma maratona. Acreditou tanto, que torcia para que eu acreditasse sozinha, pois sen\u00e3o, de nada adiantaria. Ele sempre me viu t\u00e3o humana e isso chegava a assustar. Infelizmente, isso \u00e9 raro. Ele v\u00ea beleza quando estou com as m\u00e3os calejadas e unhas quebradas cuidando de uma planta e quando resolvo passar um batom vermelho pra ficar em casa. Gosta que eu me sinta confort\u00e1vel e n\u00e3o tem opini\u00e3o sobre o meu corte de cabelo: prefere o que eu achar mais pr\u00e1tico e me fizer sorrir para o espelho.<\/span><\/span><\/p>\n Ele me deu seu sil\u00eancio, suas palavras, seu ombro, olhos nos olhos, seu tempo e aperto de m\u00e3o firme seguido de um abra\u00e7o. Ele sempre diz que eu quem o ensinei abra\u00e7ar, mas, na verdade, nossos mundos se aconchegaram. Foi f\u00e1cil. Ele me ama pelo o que eu sou de verdade: do meu lado mais sereno ao mais triste e sem controle. Sabe o que me irrita e o que me tira o f\u00f4lego de tanta alegria. <\/span><\/span>Ele sorri quando eu sorrio sem saber o porqu\u00ea. Ele \u00e9 feliz por mim. Isso \u00e9 t\u00e3o raro tamb\u00e9m. Ele sonha meus sonhos. Chora minhas l\u00e1grimas, toma minhas dores e deixa eu lutar minhas batalhas. <\/span><\/span><\/p>\n Ele \u00e9 meu amigo. Uma parte profunda de mim que eu n\u00e3o conhecia. Tenho ele no cora\u00e7\u00e3o e na pele. No cheiro, nas roupas que dividimos e na mistura de sotaques que \u00e9 s\u00f3 nossa. No nosso mundo h\u00e1 espa\u00e7o para o dele e o meu. \u00c9 um mundo imperfeito que funciona pra n\u00f3s e para as nossas esquisitices. Desejo a ele toda felicidade do mundo e sei que \u00e9 apenas isso que quer a mim tamb\u00e9m. Mesmo quando \u00e0s vezes a gente se faz chorar, nunca vemos o sol nascer assim. Ele \u00e9 do tipo que sempre diz perd\u00e3o antes. Ele aprendeu a escolher a ser feliz e n\u00e3o a ter raz\u00e3o antes de mim. Tenho tanto para aprender com ele. \u00c0s vezes penso que talvez este tempo seja pouco. Ele me diria que \u00e9 o suficiente. Acredito nele. Chama isso de amor, namoro, casamento, amizade. E \u00e9 tudo isso mesmo. Sigo vivendo ao lado dele. Algumas vezes colados, outras mais distante, mas temos o mesmo rumo desde que o conheci. Tentar ser mais. E transbordar: de janeiro a janeiro. Eu, que nunca acreditei em sorte, vivo ao lado dele me sentindo sortuda: Ele \u00e9 o cara mais da hora que conheci.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Era janeiro quando o conheci. Ele era em ess\u00eancia exatamente como \u00e9 hoje. Conheci ele de t\u00eanis, mas depois s\u00f3 o vi de chinelo nos p\u00e9s. Em poucas horas foram incont\u00e1veis as vezes que chorei de rir. A piada dele fazia sentido e, se n\u00e3o…<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":14679,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1021,1469],"tags":[83,122,1414,1901,1900,693],"yoast_head":"\n
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