{"id":14365,"date":"2017-04-10T10:28:48","date_gmt":"2017-04-10T10:28:48","guid":{"rendered":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/?p=14365"},"modified":"2018-06-13T17:14:17","modified_gmt":"2018-06-13T17:14:17","slug":"minha-primeira-maratona","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/minha-primeira-maratona\/","title":{"rendered":"> MINHA PRIMEIRA MARATONA"},"content":{"rendered":"

Essa foto foi nos 30km<\/strong>. O dia mais desgastante da minha vida, foi o melhor. Mas, calma, temos muitos km pra contar ainda.<\/p>\n

Tudo come\u00e7ou a nem 2 anos atr\u00e1s quando\u00a0meu cunhado tinha come\u00e7ado a correr e fez meu namorado se apaixonar tamb\u00e9m. N\u00e3o demorou muito para que eu desse uma chance a mim mesma para testar. Hoje, posso seguramente dizer: foi a melhor escolha que fiz para minha vida.<\/p>\n

Essa semana passou voando e mexeu muito comigo. Al\u00e9m de estar animada, os dias de TPM s\u00e3o bem dureza na quest\u00e3o psicol\u00f3gica. Pensei, achei que n\u00e3o ia dar, depois pensei que podia e, ent\u00e3o na sexta-feira pela manh\u00e3, eu decidi que ia fazer dar certo sim. Eu ia.<\/p>\n

Domingo de manh\u00e3, chegamos na prova e tudo estava muito bem organizado. Acordei tranquila, me posicionei no meu setor e comecei a me alongar. Observava as pessoas ao redor e vi de tudo: altos, pequenos, magros, mais cheios e muitas, MUITAS pessoas de idade concentrados e sentados no beiral da cal\u00e7ada. Olhei uma senhora com seus l\u00e1 60 anos<\/strong> e pensei “vou ficar na cola dela, ela sabe o que faz” e a perdi de vista. \u00c0s 7:30H<\/strong>, foi hora da largada. Como de se esperar bem devagar e com quase nada de espa\u00e7o , o que foi bom para manter um ritmo leve e de aquecimento. A maioria quebra na empolga\u00e7\u00e3o da sa\u00edda. Afinal, quando se vai fazer 42km a pergunta a ser feita \u00e9: Aguento mais ou menos nessa m\u00e9dia\u00a0at\u00e9 o final? O seu corredor administrador precisar\u00e1 responder. Decidi ir sem pressa. Apenas conferindo no rel\u00f3gio para n\u00e3o empolgar com os gritos e energia t\u00e3o boa e que nos anima. Logo nos 8km<\/strong>, uma mo\u00e7a parou comigo: “Posso ir com voc\u00ea?” Claro que sim, eu respondi. Ela ia fazer 24km e comentou que estava com receio de n\u00e3o terminar. “Na verdade, voc\u00ea vai correr s\u00f3 16km agora” eu disse. Ela me olhou sorrindo. Est\u00e1vamos em um pace bem baixo do que eu queria, mas sentia que a medida que engrenava, ela perdia o controle. Decidi me manter ao lado dela. Fui e peguei dois copos de \u00e1gua, um pra mim e outro pra ela e seguimos. O primeiro anjo no caminho que me fez olhar menos para o ch\u00e3o e mais para o lado. Foquei menos em mim, mais nela e foi lindo.<\/p>\n

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No 14km<\/strong> um mo\u00e7o de americana chegou em n\u00f3s tamb\u00e9m. Contou que ia fazer a maratona e estava com medo de quebrar e n\u00e3o terminar por n\u00e3o conseguir concluir os treinos longos direito. Tentei distra\u00ed-lo com outras coisas: Rimos do mo\u00e7o comendo salame, do cara bebendo coca-cola e nos emocionamos com a senhora de 70 anos correndo cantando. Meu \u00fanico erro, foi n\u00e3o ter perguntado o nome deles. A mo\u00e7a disse que iria segurar e ele, se apressar mais. Espero muito que tenham chegado onde queriam.<\/p>\n

No 18km<\/strong> eu me sentia bem. Tinha energia, perna e a cabe\u00e7a estava boa. Me arrisquei e mandei uma foto para os meus pais que n\u00e3o puderam ir para dizer que estava tudo bem. Mandei um te amo para o Fabinho. Entrei na USP e sabia que ali o buraco j\u00e1 seria mais embaixo. Mas, logo no 21km, conheci a Regiane. “Eu te vi vindo bem e vim atr\u00e1s de voc\u00ea”. S\u00e9rio? Ela balan\u00e7ava positivamente a cabe\u00e7a enquanto comia o gel de carboidrato e me oferecia. Contei\u00a0que estava comendo de 6km em 6km e agradeci, est\u00e1vamos no ritmo que eu queria completar a pr\u00f3xima metade da prova. Regiane ia fazer a prova de 24km, contou que fazia triathlon<\/i> e\u00a0me indicou exercitar outro movimento nas pernas de tempo e tempo para aliviar o \u00e1cido l\u00e1tico. Foi \u00f3timo. No 23km<\/strong> ela sorriu e me disse “Isadora, muito obrigada por me trazer at\u00e9 aqui”. Eu ri e disse que foi o contr\u00e1rio. Ela me olhou e continuou “Voc\u00ea me deu vontade de fazer 42km, mas eu vim com cabe\u00e7a de 24km e vou quebrar se continuar. Mas, vai com for\u00e7a. Voc\u00ea j\u00e1 enfiou os 42km na cabe\u00e7a?”. Disse que sim, mas s\u00f3 tinha me dado conta naquele momento do qu\u00e3o puxado seria. Ela apertou minha m\u00e3o como se acreditasse em mim, saiu para seu sprint<\/em> final e gritou “24km \u00e9 a hora do seu gel”. Regiane foi meu terceiro anjo. Ela me deu consci\u00eancia da for\u00e7a que eu ia precisar.<\/p>\n

Dali at\u00e9 os 31km<\/strong> foi quando me senti um pouco mais fraca. Sol, muitas pessoas caminhando e o trajeto sem nenhuma sombra. Foi exaustivo demais, mas n\u00e3o pensei 1 segundo em parar. Olhei no rel\u00f3gio e meu tempo n\u00e3o era o que eu tinha pensado, mas estava no est\u00e1gio que n\u00e3o percebia que estava correndo, as pernas apenas iam. Acho que Regiane tinha ajustado os 42km na minha cabe\u00e7a de qualquer maneira. Combinei com Fabinho de que eu iria mandar uma mensagem nos 32km<\/strong>, para dizer como estava. Eu n\u00e3o via a hora de chegar nesse trecho para dizer que estava bem. Peguei meu celular e disse que estava ok e com as pernas um pouco pesadas. At\u00e9 que escutei um “ISA!!!!”. OXI? F\u00e1bio?<\/strong> Esse lado da hist\u00f3ria do\u00a0Fabinho voc\u00eas ver\u00e3o no vlog.<\/p>\n

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Dos 32km<\/strong> em diante seguimos juntos. Resolvi diminuir o ritmo por quest\u00f5es de pernas mais pesadas que o normal. Tive muito receio de faltar para os kms finais e comprometer tudo at\u00e9 ali, apesar de me sentir bem e inteira na medida do poss\u00edvel. Fabinho estava bem e animado, embora agora ele me conte que continuou correndo s\u00f3 para terminar comigo e que n\u00e3o estava nos melhores dias. Nos 35km<\/strong> foi quando a maratona oficialmente come\u00e7ou pra mim. Brinquei que n\u00e3o corri 42k, corri s\u00f3 os 7km mais duros da minha pequena vida na corrida<\/strong>. Minhas coxas pareciam ter 10kg a mais, tinha que me policiar para manter a postura e o pace j\u00e1 n\u00e3o me importava: era trote at\u00e9 o fim, contanto que meu rel\u00f3gio mostrasse 42.195km. Neste trecho a maioria das pessoas estavam parando e caminhando, confesso que isso me deu dor no cora\u00e7\u00e3o. N\u00e3o importa o tempo de chegada, se voc\u00ea fez 42km, voc\u00ea \u00e9 um maratonista. Mas, vi muitos chorando, gente com f\u00edsico muito bem preparado sentado, senhores com passinho devagar animando quem aparentava desistir, pessoas passando mal. Eu sentia minhas coxas bem pesadas, mas sabia que n\u00e3o iria parar ali. Eu pensava no que eu poderia fazer, jogava \u00e1gua, seguia o conselho da Regiane, pensava na mensagem que minha m\u00e3e enviou de manh\u00e3. Foi duro. Pensei que n\u00e3o ia dar.<\/p>\n

Os \u00faltimos 2km<\/strong> foram dram\u00e1ticos, mas os mais especiais. Durante todo o percurso tinham pessoas animando, gritando, aconselhando e ajudando com TUDO o que podiam. Eu me emocionei o tempo inteiro. Gente que n\u00e3o me conhecia, lia meu n\u00famero de peito e me chamava pelo nome. Gente que sonhou esse sonho como a gente sem nem nos conhecer. Faltando 1km, um mo\u00e7o me viu com l\u00e1grimas trancadas e disse “CHORA QUE J\u00c1 \u00c9 SEU”, desatei a chorar e soltei as pernas. Eu j\u00e1 enxergava o p\u00f3rtico, minha melhor amiga me esperando de surpresa, meu melhor amigo ao meu lado e eu s\u00f3 conseguia sorrir: nem 2 anos atr\u00e1s, eu chorava porque n\u00e3o conseguia correr 400m. Olha onde eu t\u00f4?! Fabinho abriu os bra\u00e7os e eu o abracei forte. Chegamos onde quer\u00edamos e sonhamos juntos.<\/p>\n

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A maratona foi um processo pessoal, doloroso e especial pra mim. J\u00e1 n\u00e3o importava mais se eu terminaria ou n\u00e3o, eu tinha aprendido tanto. Eu estava apaixonada pela corrida, mas foi neste processo que realmente virou amor. Parei de me preocupar com n\u00fameros, parei de me cobrar ser 100% sempre, passei a me divertir e entregar o meu melhor de cada dia. Quando terminei minha primeira meia maratona, 1 ano atr\u00e1s, eu n\u00e3o sabia pra qu\u00ea correr 42km. Hoje, eu sei. Vivi cada km nesse percurso. Senti cada dor, cada sorriso, cada cansa\u00e7o e cada l\u00e1grima. N\u00e3o fugi: eu queria viver tudo isso ainda que fosse preciso dar todas minhas reservas e inseguran\u00e7as. Terminei com mais vida do que nunca dentro de mim. Terminei com f\u00e9 na bondade das pessoas, terminei com f\u00e9 em mim.<\/p>\n

Este, parafraseando Lucy, foi o melhor dia da minha vida<\/strong>. O primeiro..<\/p>\n