{"id":12175,"date":"2016-04-27T14:28:57","date_gmt":"2016-04-27T14:28:57","guid":{"rendered":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/?p=12175"},"modified":"2017-02-06T12:53:44","modified_gmt":"2017-02-06T12:53:44","slug":"21-k","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/nadaalemdosimples.com\/21-k\/","title":{"rendered":"> 21K : MEIA MARATONA"},"content":{"rendered":"

Foi no final do ano quando ouvi o Fabinho me dizer: Vou fazer a prova da meia maratona<\/strong>. “Quantos s\u00e3o mesmo? Ah, 21km, voc\u00ea \u00e9 louco”.\u00a0Na hora ele falava animado da planilha de treino e, enquanto isso, apenas uma coisa passava na minha cabe\u00e7a: O que faz algu\u00e9m correr uma meia maratona? O que leva algu\u00e9m a ficar praticamente 2 horas correndo?<\/p>\n

Barba me falava do trajeto. N\u00e3o teriam praticamente subidas e era pr\u00f3ximo de casa, um percurso que est\u00e1vamos at\u00e9 acostumados.\u00a0N\u00e3o me perguntem o porqu\u00ea, mas meses depois come\u00e7ava a fazer sentido me inscrever. Senti uma ponta de confian\u00e7a ao pensar: Ser\u00e1 que eu consigo? Vamos ver, me respondi em voz alta.\u00a0Me inscrevi faltando 2 meses e 8 dias para a prova e o frio na barriga come\u00e7ou com um misto de tranquilidade e paz interior que me arrisco dizer que, s\u00f3 quem corre consegue sentir<\/strong>.<\/p>\n

Fabinho mergulhou nessa comigo, como em todos os meus projetos furados ou os relevantes que me enfiei nestes 6 anos juntos. Acord\u00e1vamos cedo, cal\u00e7\u00e1vamos os t\u00eanis, protetor, protetor labial, mochila de \u00e1gua e fug\u00edamos. Todos os domingos, lembrava daquela pessoa que 8 meses atr\u00e1s n\u00e3o conseguia respirar por 300m. Mas, que resolveu n\u00e3o parar. Desde o meu primeiro 1km, at\u00e9 os 15km, 16.5km, 18km, 19.5km, ele esteve em todos. Eu repetia: S\u00f3 tenho que ir e voltar. Ele ria.<\/p>\n

Eu sempre pensava que motiva\u00e7\u00e3o faria algu\u00e9m correr por tanto tempo<\/strong>? e o t\u00e9dio? e a vontade de sentar e n\u00e3o fazer mais nada? a ansiedade de chegar em casa e ir para o almo\u00e7o de fam\u00edlia? os emails n\u00e3o respondidos? o trabalho? A verdade \u00e9 que tudo isso \u00e9 apenas um detalhe, quando se esta correndo. Me arrisco em dizer que quase n\u00e3o faz mais import\u00e2ncia. Foi a\u00ed, que peguei gosto. Descobri que quanto mais longe ia, mais tempo eu ganhava de cora\u00e7\u00e3o leve, mente tranquila e serenidade para os trancos da vida. Eu teria mais tempo para pensar, pensar em tudo e terminar sem lembrar de nada<\/span>. Olhar para o asfalto se tornou a melhor terapia que eu poderia fazer por mim mesma<\/strong>. Era neste tempo que eu me aturava e brigava com meus monstros interiores. A inseguran\u00e7a, o medo, a ansiedade e a falta de compromisso. Cada quil\u00f4metro a mais, a recupera\u00e7\u00e3o do\u00eda um pouco mais, mas mal sabia eu que este era o combust\u00edvel.<\/p>\n

O melhor de correr \u00e9 que tanto faz se voc\u00ea se est\u00e1 bem ou mal<\/span>. Na verdade, se estiver mal \u00e9 melhor ainda. J\u00e1 corri com l\u00e1grimas no rosto, com o peito angustiado, brigada com o F\u00e1bio, ansiosa com resposta de trabalho: em todas elas, marquei meus melhores tempos. Terminava a corrida dando a import\u00e2ncia certa para aquele problema e de que uma hora as coisas v\u00e3o se resolver. E se n\u00e3o resolver, tudo bem tamb\u00e9m.<\/p>\n

H\u00e1 quem diga que\u00a0o nosso semblante mudou desde que come\u00e7amos a correr. Criamos um certo sorriso, sem estar sorrindo<\/strong>. Uma tranquilidade e leveza f\u00edsica, mas muito mais mental. Foi correndo que entendi que meu corpo \u00e9 a minha casa e que preciso cuidar bem dela para que funcione bem. Foi correndo que entendi que posso ir al\u00e9m, mas que manter um passo seguro e bem administrado tamb\u00e9m \u00e9 importante. Foi correndo que descobri que o trajeto n\u00e3o importa, quando se tem vontade de seguir em frente. Foi correndo que senti a minha fragilidade \u00e0 flor da pele, mas que n\u00e3o chega nem perto da for\u00e7a que h\u00e1 em mim e eu n\u00e3o sabia. Hoje, apenas corro.<\/p>\n

\"pe\u0301s\"Vi gente nova e muita gente com 60-70 anos. Minha vontade era parar e dar um abra\u00e7o. Chegamos nos 16km<\/strong> e j\u00e1 n\u00e3o importava mais. As pernas sabiam o caminho. Ao mesmo tempo, o problema estava mais em cima: a mente<\/span>. Esta talvez seja nosso maior desafio no asfalto ou fora dele. Barba queria registrar minha chegada e foi mais r\u00e1pido nos \u00faltimos 3km. Por um segundo, me senti s\u00f3. Uma solid\u00e3o diferente. Eu estava com 3 mil pessoas ao redor e eu poderia parar, ningu\u00e9m me impediria. Comecei a ver pessoas caminhando, sentadas no meio fio. Outras olhando para o rel\u00f3gio religiosamente, mudando de m\u00fasica constantemente, comendo gel de carboidrato para dar energia. A verdade \u00e9 que nada disso funciona, se voc\u00ea n\u00e3o esta seguro com a sua mente. Ela te dir\u00e1 para parar e voc\u00ea pode. Mas, por qu\u00ea? “T\u00f4 chegando em casa<\/strong>“, eu pensava. Eu tinha energia em mim, mas minhas pernas me diziam outra coisa. Olhei no celular pela primeira vez na prova e faltava 1.100km. Apertei o passo. Controlei o impacto e fui. Fui, mais uma vez. S\u00f3 que dessa vez: Cheguei aos 21.1km. Nossa primeira meia maratona.<\/p>\n

Como tudo na vida, o trajeto foi sofr\u00edvel. Nunca vou me esquecer das mensagens de incentivo que ouvi no caminho, a senhora com 60 anos que me inspirava, a nossa amizade forte, dores, desconforto, o prazer da \u00e1gua. Mas, foi incr\u00edvel.<\/p>\n

Hoje, me peguei pensando: 42K<\/strong>? O que leva algu\u00e9m a correr isso? Talvez eu tamb\u00e9m tenha que descobrir…<\/p>\n